Dados e tecnologia são fundamentais para o novo normal e a transição da LIBOR

Este artigo foi escrito por Bing Li, chefe da APAC da Bloomberg, para Regulation Asia. Autorizado pela Bloomberg.

Uma série de iniciativas importantes, como a FRTB (Fundamental Review of the Trading Book), foi postergada devido à COVID-19, mas a transição mundial da LIBOR (London Inter-Bank Offered Rate) não é uma delas.

Em junho, o ARRC (U.S. Alternative Reference Rates Committee) recomendou que as empresas deixem de utilizar a USD LIBOR para novas notas de taxa flutuante até o fim de 2020, e para novos derivativos e empréstimos comerciais até junho de 2021. No Reino Unido, foi solicitado ao Financial Conduct Authority (FCA), órgão regulador do Reino Unido, que se prepare para oferecer empréstimos com taxa média interbancária overnight em libras esterlinas (SONIA) até o fim do terceiro trimestre de 2020 e para deixar de utilizar a GBP LIBOR em produtos de empréstimo até o primeiro trimestre de 2021.

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Maior urgência e disparidade na Ásia

A LIBOR é fundamental para trilhões de dólares de fluxo de produtos financeiros em todo o mundo, inclusive na Ásia. Na região, a LIBOR é utilizada em uma ampla gama de produtos e avaliações financeiras em diferentes mercados, incluindo empréstimos, hipotecas, securitização e derivativos. Os dados da Bloomberg mostram que empresas asiáticas têm pelo menos US$600 bilhões em empréstimos e títulos vinculados à USD LIBOR em circulação, cerca de dois terços dos quais vencem após a data de suspensão da LIBOR.

A transição da LIBOR para taxas RFRs (risk free rates) – taxas de referência overnight com um mercado líquido subjacente – tem sido fragmentada em toda a Ásia. A União Europeia tem diretrizes regionais centralizadas, enquanto a Ásia não tem.

Em mercados desenvolvidos, como Japão, Hong Kong e Cingapura, um compromisso regulatório claro, proativo e consistente pode ter levado os bancos a se afastarem da LIBOR muito mais rapidamente do que seus concorrentes regionais. Uma análise da Bloomberg Intelligence indicou que mercados, como a Malásia e a Indonésia não receberam o mesmo grau de orientação regulatória, potencialmente os expondo a maiores riscos legais e a uma perda de participação no mercado regional. A Autoridade Monetária de Cingapura (MAS, na sigla em inglês) emitiu as primeiras notas de taxa flutuante SORA (Singapore Overnight Rate Average) e, em breve, começará a publicar índices compostos SORA.

No entanto, alguns argumentam que a transição não está acontecendo tão rapidamente quanto deveria. Até junho de 2020, os dados da Bloomberg indicavam que apenas dois produtos ligados à SOFR haviam sido emitidos pelo Bank of China e pelo Asia Development Bank.

Na realidade, um levantamento da Autoridade Monetária de Hong Kong (HKMA, na sigla em inglês), realizado no quarto trimestre de 2019, revelou que menos de metade dos bancos quantificou suas exposições à LIBOR, e apenas 38% possui um plano de transição completo. No Japão, um levantamento realizado por reguladores em março de 2020 mostrou que os bancos ainda estão nas fases iniciais de preparação, como, por exemplo, a identificação de quais sistemas de TI devem ser atualizados.

Enquanto jurisdições ao redor do mundo já identificaram RFRs (risk free rates) alternativas – SOFR nos Estados Unidos, SONIA no Reino Unido, SORA em Cingapura, AIOR na Malásia, INDONIA na Indonésia e TONA no Japão, por exemplo – empresas de serviços financeiros enfrentam a assustadora tarefa de reconfigurar elementos importantes de sua gestão de dados de mercado, com o objetivo de se prepararem para a transição, incluindo: mecanismos de reinicialização diária, cálculos compostos, geração de curvas futuras e sistemas de gestão de risco novos ou repaginados.

Muitas jurisdições devem adotar uma abordagem de taxas múltiplas com, por exemplo, caixa e derivativos referenciando diferentes benchmarks. Aqueles que utilizam várias moedas para negociar enfrentarão cenários fragmentados. As empresas precisarão de dados para criar novas curvas de taxa de juros, e de analytics para ajudar a retraçar ou corrigir transações antes que os ajustes (fallbacks) sejam acionados.

Soluções para COVID-19 e smart data

Infelizmente, no ambiente atual, as empresas financeiras estão sob maior pressão operacional como resultado da crise da COVID-19, o que ocasionou o surgimento de novos e urgentes requisitos de compliance regulamentar, e mudanças imperativas nos negócios, preços e riscos.

Recentemente, 180 membros do mercado participaram de um webinar da Bloomberg/APLMA, dos quais 60% afirmaram que a COVID-19 havia impactado seus planos de transição, e 11% disseram que não haviam iniciado o planejamento para a transição.

Em meio à crise da COVID-19, uma coisa é evidente – a tecnologia tem auxiliado a garantir que o mundo financeiro não pare. Da mesma forma, soluções de dados poderosas e uma automação impulsionada por tecnologia serão fundamentais para uma transição da LIBOR bem sucedida. Estas soluções irão remover o ônus dos fluxos de trabalho manuais através da automatização de tarefas de dados para relatórios regulatórios e compliance.

Recentemente, trabalhamos com um banco japonês para solucionar este problema por meio de novos fluxos de trabalho envolvendo a entrada de dados de negociações utilizando múltiplos canais e novos métodos de cálculo. De fato, a capacidade de coletar e aproveitar vários tipos de dados, e compreendê-los – para cálculos complexos de preços e riscos – se provará imprescindível para a transição.

Em última análise, a transição da LIBOR abre a porta para uma reformulação fundamental sobre o uso de dados e tecnologia, e sobre como as empresas precisam fornecer produtos e serviços aos clientes mais competitivamente, com custos reduzidos, maior precisão, implantação mais rápida e melhoria da gestão de risco e compliance.

O setor de serviços financeiros, grupos de trabalho regulatórios e reguladores estão se esforçando para auxiliar empresas a identificar prioridades em seus planos de transição, enquanto que fornecedores de dados e tecnologia apoiam o setor através do acesso a dados, análises e ferramentas de cálculo relevantes.

À medida que o mundo se ajusta ao novo normal, o setor de serviços financeiros deve reconhecer a transição da LIBOR como uma oportunidade para reavaliar suas práticas de dados e tecnologia para prosperar além de 2021.

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