Dados impressionantes não depreciam títulos do Tesouro dos EUA

Por Brian Chappatta e Eliza Ronalds-Hannon.

O melhor resultado mensal do mercado de trabalho americano em oito meses não foi páreo para investidores aguardando para comprar títulos do Tesouro de prazo mais longo.

Os rendimentos dos papéis de 10 e 30 anos terminaram a sexta-feira nos menores níveis de fechamento em registro, mesmo após a divulgação do relatório oficial indicando criação de 287.000 empregos em junho, ou 107.000 a mais do que estimativa mediana. Inicialmente, os títulos recuaram logo após a publicação, quando sinais de força da economia impulsionaram ativos de maior risco.

Mas em meia hora, compradores que aguardavam uma queda de preços invadiram o mercado, empurrando os rendimentos para baixo. A dinâmica reflete a tensão no mercado de títulos do Tesouro americano, que movimenta US$ 13,4 trilhões, entre sinais de força da economia doméstica e a estagnação global. Essa tensão derrubou para abaixo de zero os rendimentos de quase US$ 10 trilhões em títulos públicos ao redor do mundo. Os investidores estão abocanhando a dívida dos EUA, confiantes na postura do banco central, o Federal Reserve, de manutenção da taxa básica de juros. Mesmo após a divulgação do relatório de emprego, as chances implícitas nas cotações de mercado de outra elevação nos juros ao longo de 2017 estão abaixo de 50 por cento.

“Aparentemente existe uma compra incessante nos prazos de 10 e 30 anos”, disse Gennadiy Goldberg, estrategista de juros da TD Securities (USA) LLC, uma das 23 instituições que negociam diretamente com o Fed. “Há quem esteja comprando pesado na baixa”, completou Goldberg, que trabalha em Nova York.

Extensão da valorização

O rendimento dos títulos com vencimento em 10 anos recuou nove pontos-base, ou 0,09 ponto percentual, na semana para 1,36 por cento. Foi o menor nível de fechamento desde que os dados começaram a ser compilados, em 1962. O rendimento dos papéis de 30 anos desabou 13 pontos-base no período para 2,1por cento, também batendo recorde. Os títulos de ambos os prazos se valorizaram por seis semanas consecutivas, na fase de alta mais prolongada desde 2012.

Mesmo tão baixo, o rendimento dos títulos do Tesouro americano com prazo de 10 anos ainda supera as taxas de obrigações de prazo similar de 17 economias desenvolvidas acompanhadas pela Bloomberg. A dívida pública do Japão rendia taxa negativa de 0,29 por cento na sexta-feira, enquanto a da Alemanha pagava rendimento negativo de 0,19 por cento.

Não são os estrangeiros os únicos interessados. Gestores de ativos de longo prazo, como os fundos privados de pensão dos EUA, que supervisionam US$ 3 trilhões, talvez não tenham alternativa à compra de títulos do Tesouro americano em períodos de queda das cotações, segundo Shyam Rajan e Subadra Rajappa, estrategistas de juros para os EUA do Bank of America Corp. e do Société Générale SA, respectivamente.

A dívida pública americana se valorizou na semana com a divulgação, em 6 de julho, da ata da última reunião de política monetária do Fed, mostrando que as autoridades estão menos convencidas da necessidade de subir os juros. A projeção mediana das autoridades monetárias, divulgada no mês passado, era de um acréscimo na taxa básica de juros de 0,25 ponto percentual em 2016. Eles já reduziram a trajetória projetada para os juros duas vezes neste ano.

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