Por Filipe Pacheco e Paula Sambo.
A nova presidente do BNDES tem contribuído para aumentar a confiança nos esforços do governo para reanimar a economia, ao se comprometer em encolher o tamanho do banco.
O BNDES está reduzindo o crédito subsidiado para as maiores empresas do Brasil para se concentrar no financiamento de parcerias público-privadas e empresas de pequeno porte que podem ter dificuldade em obter financiamento. O esforço é liderado por Maria Silvia Bastos Marques, de 59 anos, que foi nomeada presidente em maio. Ela ganhou o apelido de “Dama de Ferro” da mídia local por sua maneira direta quando dirigiu a Cia. Siderúrgica Nacional de 1999 a 2002.
A promessa de apertar os cintos no BNDES vem após a carteira de crédito do banco aumentar quatro vezes em nove anos de mandato de seu antecessor, Luciano Coutinho, com o governo procurando estimular o crescimento econômico. Enquanto a expansão da carteira de crédito do banco caiu como uma luva para empresas como JBS e Petrobras, os críticos disseram que distorceu os mercados de crédito e contribuiu para o aumento do passivo em um país que agora está lutando para reconquistar o status de grau de investimento após o corte do ano passado para junk.
“Ela está deixando claro que o banco não pode ser usado como Brasília bem entender”, disse João Augusto Frota Salles, analista da consultoria Lopes Filho Consultoria de Investimentos SA, no Rio de Janeiro, que trabalhou com Maria Silvia da CSN nos anos 2000. “É uma grande mudança para o banco.”
Investidores no mercado de dívida parecem apoiar os planos dela: R$ 1,1 bilhão em notas do BNDES com vencimento em 2023 acumulam valorização de 5,5 por cento desde 16 de maio, quando Maria Silvia foi nomeada presidente. Quase três vezes a média para os títulos de empresas financeiras de mercados emergentes.
Maria Silvia Bastos Marques chamou atenção como presidente da empresa siderúrgica, indo para o chão de fábrica e vestindo os mesmos coletes feitos pela empresa para os trabalhadores das fábricas, disse Salles. “Ela gostava de ser vista apenas como uma simples funcionária.”
Ela também dirigiu o comitê olímpico do Rio de Janeiro de 2011 a 2014 e foi presidente da companhia de seguros Icatu Seguros SA.
Sua promessa de reduzir os empréstimos no BNDES está em linha com os esforços do presidente interino Michel Temer de restaurar a confiança na maior economia da América Latina. Ele assumiu o posto há dois meses após o afastamento de Dilma Rousseff, que enfrenta um processo de impeachment por supostamente manipular números do orçamento. Ações, títulos e a moeda brasileira estão entre melhores desempenhos do mundo neste ano, com o otimismo de que Temer vai reduzir os déficits e tirar o país da recessão.
Sob Coutinho, o BNDES foi uma das ferramentas mais importantes de Dilma e seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para estimular o crescimento. Empresas de classificação de crédito citaram a rápida expansão do crédito, financiada principalmente por injeções do governo federal, como uma das causas para um aumento da dívida pública bruta do Brasil e da deterioração de suas contas fiscais.
Em um discurso em 1º de junho, no Rio de Janeiro, Maria Silvia disse que o BNDES vai vender ativos e avalia privatizações no momento em que busca atrair investimentos externos para financiar projetos de infraestrutura do Brasil. O BNDES “certamente não vai ter um ano brilhante” em termos de desembolsos, acrescentou, observando que o banco vai analisar quando vender alguns dos ativos detidos pelo seu braço de investimentos, incluindo participações minoritárias em mais de 100 empresas.
A carteira total de empréstimos do BNDES aumentou para R$ 695 bilhões no ano passado, de R$ 165 bilhões em 2007. A maioria dos empréstimos do banco são baseadas na TJLP, que atualmente é 6,75 pontos percentuais abaixo da taxa Selic. A carteira de crédito do banco encolheu 3,6 por cento no primeiro trimestre, para R$ 670 bilhões, segundo balanço.
“Vemos o BNDES se tornando um banco com uma mentalidade mais pró-mercado, buscando formas de ajudar a impulsionar o crédito privado no Brasil”, disse Bruno Carvalho, chefe de renda fixa da corretora Guide Investimentos, em São Paulo. “Muitas empresas foram usadas para contar com seus empréstimos baratos. Isso está mudando agora.”
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