De chinelos a gasodutos, Itaúsa acelera aquisições no Brasil

Por Cristiane Lucchesi, Felipe Marques e Daniel Cancel.

Após investir R$ 3,1 bilhões em aquisições no ano passado, a Itaúsa está pronta para mais.

“No passado, a Itaúsa não era procurada para negócios. Hoje ela é muito procurada, todos os bancos de investimento passam aqui, todos os private equities passam aqui”, disse o diretor presidente Alfredo Setubal em entrevista realizada na sede em São Paulo, decorada com obras de arte de alguns dos principais modernistas brasileiros, incluindo pinturas de Candido Portinari e uma escultura de Victor Brecheret.

A Itaúsa – Investimentos Itaú SA — a holding das famílias Setubal e Villela — está “acompanhando silenciosamente” oito alvos potenciais, ele afirmou, sem revelar os nomes. A empresa faz parte do grupo que tenta comprar um gasoduto da Petrobras no Nordeste, em uma operação que pode chegar a US$ 8 bilhões, segundo pessoas com conhecimento do assunto afirmaram no mês passado.

A Itaúsa, dona de uma fatia controladora de 37,6 por cento no Itaú Unibanco Holding, precisa fazer mais investimentos para que o banco não represente mais de 90 por cento da carteira, segundo Setubal. É difícil cumprir essa meta porque o valor do banco na carteira da Itaúsa aumenta em até R$ 3 bilhões por ano, disse o executivo.

“Então este é o valor que podemos potencialmente investir a cada ano.”

A Alpargatas, dona da marca Havaianas que foi comprada pela Itaúsa e pela família Moreira Salles em julho do ano passado, é este o tipo de oportunidade que Setubal busca replicar.

“A companhia estava na lista que monitoramos porque o proprietário estava muito endividado e provavelmente precisaria vender ativos,” disse.

Negócio de Chinelos

A família Moreira Salles — sócia da Itaúsa no bloco de controle do Itaú — tentou comprar a Alpargatas da Camargo Corrêa em 2015 e perdeu o negócio para a J&F Investimentos. Por isso, já tinha conhecimento dos números da fabricante das Havaianas. A Itaúsa então sinalizou para os Moreira Salles seu interesse em uma aquisição conjunta. Quando a empresa foi vendida, eles estavam “muito preparados” e o negócio foi concluído em 15 dias, segundo Setubal.

As oito companhias que a Itaúsa está monitorando são sujeitas a “pouca ou nenhuma influência do governo”, disse Setubal, acrescentando que a Itaúsa não pretende fazer nenhuma aquisição sozinha e sim como parte de um grupo de investidores, participando em blocos de controle por meio de acordos de acionistas.

Em um exemplo dessa filosofia, a Itaúsa tem poder de veto sobre as decisões relativas a distribuição de dividendos pela NTS, operadora de gasoduto na qual comprou uma participação de 7,65 por cento no ano passado, por R$ 1,4 bilhão, afirmou Setubal.

“Embora o investimento necessário nos gasodutos seja considerável no longo prazo, o fluxo de caixa é estável e permanente.”

Mantendo amigável

A Itaúsa não se envolve em aquisições hostis porque é a “maneira errada de entrar em uma empresa” e não investe em startups porque se considera “grande demais”.

Segundo Setubal, a Itaúsa pretende aumentar investimentos fora do setor financeiro agora que o Brasil está “entrando em uma nova fase, com a inflação derrotada, juro real baixo e governos comprometidos com reformas fiscais”. A estratégia anterior da holding de evitar esse tipo de empresas foi acertada porque os “retornos foram ridículos, mas agora isso vai mudar”, ele prevê.

A economia brasileira deve crescer anualmente entre 3 por cento e 4 por cento nos próximos cinco anos, disse Setubal, que considera esse ritmo “modesto, mas um bom ambiente para negócios”.

‘Muito parado’

Setubal passou do Itaú para a holding da família há cerca de três anos, com o objetivo de transformá-la em um “veículo mais ativo dos nossos investimentos”, uma vez que o portfólio estava “muito parado”.

A estratégia incluiu a contratação, em janeiro de 2016, de Frederico Pascowitch, que era sócio da Gávea Investimentos, para liderar uma equipe de fusões e aquisições que aumentou de três para sete pessoas. A Itaúsa tem 70 funcionários.

A Itaúsa prefere evitar a alavancagem na holding e chamou de volta R$ 1,37 bilhão dos R$ 6 bilhões em dividendos distribuídos a acionistas no ano passado, a fim de fortalecer o caixa e reduzir a dívida de R$ 2 bilhões. A empresa está pagando adiantado um empréstimo usado para comprar a Alpargatas e aumentando a reserva de caixa para cerca de R$ 500 milhões, segundo Setubal.

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