De Schengen à ‘brexit’, acumulam-se os riscos para o euro

Por Lucy Meakin.

Não é só o estímulo do Banco Central Europeu que tem potencial para prejudicar o euro.

Desde a possibilidade de que a Grã-Bretanha possa sair da União Europeia e o impacto da chegada de um grande número de refugiados à região até os temores com o panorama econômico e a turbulência política na Irlanda e também na Espanha, o euro está diante de uma série de riscos. Somando-se a isso que os analistas esperam que o BCE reduza ainda mais os juros e incremente a compra de ativos, os investidores se perguntam o quanto o euro poderia cair.

“Existem riscos com a política monetária, existem riscos políticos dentro da UE, existem riscos geopolíticos do exterior com a migração e, debaixo de tudo isso, há um quadro de crescimento bastante opaco”, disse Frances Hudson, estrategista temática internacional em Edimburgo da Standard Life Investments, que administra US$ 356 bilhões. “É possível ver com certa facilidade uma espiral negativa se formando”.

O euro teve o pior desempenho depois da libra entre as principais moedas durante os últimos 30 dias e chegou ao valor mais baixo em quatro semanas frente ao dólar nesta semana. Outro sinal de inquietação é que uma medida das expectativas dos traders em relação às oscilações de preços no par de moedas mais negociado do mundo para os próximos seis meses atingiu nesta semana o valor mais alto desde 2012, quando Mario Draghi, presidente do BCE, prometeu fazer o que fosse necessário para preservar o euro.

Embora a desvalorização da moeda possa dar um impulso à economia por estimular as exportações, os últimos declínios refletem um panorama conturbado para o bloco. Caso o Reino Unido opte pela saída no referendo do dia 23 de junho, o comércio seria ainda mais prejudicado e surgiriam obstáculos políticos sem precedentes para a UE. Os esforços de administrar a chegada de refugiados, vindos de países como a Síria, reduzindo a circulação livre dentro do espaço Schengen, que não exige passaporte, também ameaçam o intercâmbio de bens.

Mais de 100.000 pessoas atravessaram o mar e chegaram à Grécia, Itália e Espanha durante os dois primeiros meses deste ano, de acordo com Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de um milhão de pessoas fizeram a travessia em 2015. As autoridades europeias se reunirão no dia 7 de março para tentar chegar a uma solução.

Pressão crescente

“Se chegarmos a um ponto em que as pessoas questionem o euro em si, a posse internacional de ativos europeus se tornaria problemática”, disse Hans Redeker, estrategista cambial do Morgan Stanley em Londres. “Precisamos estar muito atentos no ambiente atual e, sem dúvida, muita pressão continua se acumulando”.

Redeker, que projeta que o euro ficará a par do dólar por volta do fim do ano, disse que há uma possibilidade “bastante alta” de que ele precise reduzir essa previsão para US$ 0,96, um patamar não observado desde 2002. Ele não é o único. Quase um quinto dos analistas em uma pesquisa da Bloomberg concorda com o Morgan Stanley que o euro chegará à paridade com o dólar em torno do fim de 2016.

A turbulência política também está aumentando, trazendo o fantasma de governos mais fracos e do afastamento da reforma fiscal. A incerteza persiste na Irlanda depois que a eleição não indicou um vencedor claro, e a Espanha está em um impasse político há 10 semanas desde o resultado inconclusivo da eleição. No ano passado, Portugal suportou semanas de conflitos antes que um governo de liderança socialista assumisse o poder.

Comércio

O apoio ao comércio é particularmente importante para o bloco, que ainda está tentando se recuperar da recessão e da crise de dívida, embora as compras de bonds feitas pelo banco central estejam empurrando para mínimas recorde o custo dos empréstimos nos países-membros. Apesar de ajudar a proteger a dívida soberana das quedas fortes vistas em crises anteriores, esse programa de flexibilização quantitativa está levando os investidores a se voltarem para a moeda a fim de expressar seus temores.

“Considerando todos os fatores conjuntamente, estamos negativos em relação ao euro”, disse Adam Cole, diretor de estratégia cambial internacional do Royal Bank of Canada em Londres. “Projetamos que ele chegará à paridade e permanecerá nesse patamar por um tempo”.

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