Decisão de Cunha sobre impeachment dá otimismo a investidores

Por Julia Leite e Ben Bain, com a colaboração de Sebastian Boyd, Eduardo Thomson e Christine Jenkins.

A decisão de iniciar o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff provocou otimismo de que o país esteja mais próximo de resolver o impasse político que agrava a pior recessão em 25 anos.

O MSCI Brazil Capped ETF, o maior ETF de ações brasileiras, disparou na quarta à noite depois que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, informou que teria aceitado o pedido de impeachment contra Dilma após meses analisando mais de uma dúzia de petições para removê-la do cargo. O Ibovespa tambem subiu na quinta-feira, liderando ganhos entre os maiores índices de ações globais.

A euforia inicial mostra que os investidores dariam boas-vindas a uma resolucão ao impasse que tem frustrado os esforços para reforçar as contas públicas do país. Contudo, o processo de remoção de Dilma do cargo é árduo e poderia levar meses para ser concretizado, e não está claro se os ganhos dos ativos brasileiros são sustentáveis, segundo Pablo Cisilino, que ajuda a gerir cerca de US$ 42 bilhões em dívidas de mercados emergentes, incluindo bonds brasileiros, na Stone Harbor Investment Partners em Nova York.

“O importante é que o Brasil tenha uma resolução política dentro dos próximos meses”, disse Cisilino. “Por isso poderíamos ter uma melhora, mas para que essa melhora se sustente é necessário ter mais informaçoes a respeito de como esse processo vai prosseguir”.

O iShares MSCI Brazil Capped ETF subiu 2,5 por cento na quarta-feira, para US$ 23,14, revertendo as perdas após o anúncio de Cunha. Os ADRs da Petrobras deram um salto de 4,4 por cento. O anúncio, que veio após o fechamento do mercado em São Paulo, também ajudou a impulsionar o Ibovespa na quinta-feira. O principal índice de ações brasileiro subiu 5 por cento na máxima do dia.

O Brasil sofreu quatro rebaixamentos em sua nota de crédito durante o governo Dilma. O real teve um declínio de 57 por cento desde que ela assumiu, em 2011, e o Ibovespa perdeu 35 por cento.

O processo de impeachment envolve diversas votações no Congresso que poderiam resultar na cassação da presidente. Dilma, que disse estar “indignada” com a decisão de Cunha, contestaria qualquer processo de impeachment no Supremo Tribunal Federal, segundo um alto membro do governo com conhecimento direto da estratégia de sua defesa. A empresa de consultoria política Eurasia Group colocou as chances de cassação de Dilma em 40 por cento em uma relatório na quarta-feira.

As acusações de que membros importantes de seu partido aceitaram propinas, combinadas com o aumento da inflação e do desemprego, empurraram a taxa de aprovação de Dilma a mínimas históricas. As especulações sobre o impeachment vêm causando dificuldades para que o governo aprove as medidas fiscais necessárias para reforçar o orçamento e evitar mais rebaixamentos da classificação soberana.

“Obviamente os problemas são um pouco mais profundos do que a Dilma em si”, disse Paul Christopher, estrategista-chefe para o mercado internacional do Wells Fargo Investment Institute, que gere US$ 1,7 trilhão, em entrevista. “É um bom momento para uma recuperação do real. Mas eu não tiraria conclusões tão rapidamente”.

A decisão de Cunha coroou uma semana difícil nos mercados brasileiros. As ações, os bonds e a moeda caíram depois que o banqueiro bilionário André Esteves e o senador Delcídio do Amaral foram presos, em 25 de novembro, por terem supostamente tentado interferir em um depoimento da operação Lava Jato. Dados divulgados na terça-feira mostraram que a economia brasileira recuou mais do que o esperado no terceiro trimestre, empurrando o país para aquilo que Alberto Ramos, economista-chefe do Goldman Sachs para a América Latina, chamou de “uma verdadeira depressão”.

No pedido de impeachment, Dilma é acusada de violar a lei de responsabilidade fiscal em 2014 e em 2015. Os autores do pedido também dizem que a campanha política da presidente recebeu recursos decorrentes de atividades fraudulentas.

“Isso gera uma sensação de incerteza e reduz as chances das medidas fiscais que já estão no Congresso”, disse Ramos. “Nós não sabemos como esse jogo será jogado ou qual será o resultado, mas o Congresso estará focado nesses assuntos. Nós precisamos seguir adiante com a consolidação fiscal e quanto mais rápido, melhor”.

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