Por Josue Leonel.
A três semanas do Copom de 26 de julho, o mercado retoma uma visão mais positiva sobre o espaço para o Banco Central cortar a taxa de juros, ainda que sem voltar aos mesmos níveis de otimismo aberto visto antes do pânico causado pela delação da JBS. A aposta majoritária embutida nos contrato futuros de juros aponta para um corte de 1 ponto percentual da Selic.
A inflação em terreno negativo, aliada à melhora das expectativas e à baixa oscilação do dólar, falam mais alto que a crise política. A decisão do Conselho Monetário Nacional de reduzir as metas para 2019 e 2020 foram um efeito desta melhora de expectativas, mas também podem ser causa de melhoras adicionais.
O mercado chegou a reduzir as apostas em cortes dos juros após o pânico gerado pela delação da JBS em maio porque havia uma dúvida se a crise seria inflacionária, com a alta do dólar pressionando os preços, ou desinflacionária em razão da atividade fraca. Mais recentemente, esta dúvida diminuiu em favor da tese do efeito desinflacionário, diz Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra.
O dólar subiu muito pouco e as expectativas para o IPCA melhoraram, em vez de piorar, enquanto a queda na confiança ocorrida após a crise gera a possibilidade de uma economia ainda mais enfraquecida nos próximos meses.
O IPCA de junho, que sai sexta-feira, deve recuar -0,18%, primeira deflação do índice oficial do sistema de metas desde 2006, segundo economistas pesquisados pela Bloomberg. O índice em 12 meses deve desacelerar para 3,06%, aproximando-se do atual piso da meta, de 3%. Essa queda da inflação corrente, juntamente com a melhora das expectativas, levou o CMN a reduzir as metas para 4,25% em 2019 e 4% em 2020, na semana passada.
A medida, por sua vez, também contribuiu para melhorar as expectativas futuras para a política monetária. “A redução da meta, em um ambiente em que se trabalha com um banco central crível, ajuda a reforçar a percepção de queda da taxa neutra ao longo do tempo”, diz Oliveira. O economista lembra ainda que o IGP-M deve fechar 2017 com deflação acumulada no ano, o que vai ajudar a reduzir a alta do IPCA em 2018.
Antônio Madeira, economista da consultoria MCM, observa que a aprovação da urgência para a reforma trabalhista pelo Senado nesta terça-feira também contribui para a expectativa de que o BC possa manter o ritmo de corte da Selic em 1 pp, em vez de desacelerar o corte para 0,75 pp, como se chegou a temer.
Se até a reunião do Copom nada pior do que as informações já absorvidas pelo mercado aparecer no cenário político, um corte de 1 pp será completamente passível de acontecer, diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity. “Daqui até o final do mês, temos IPCA, possibilidade da aprovação da reforma trabalhista e podemos começar a voltar a conversar sobre a Previdência.”
Oliveira, do Fibra, acredita ser possível o BC cortar a Selic em 1 pp mesmo que a reforma da Previdência não avance no Congresso. “A Previdência é importante para a decisão sobre a Selic terminal, mas não para o nível do juro no próximo mês.”
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