Demitidos de bancos, profissionais mudam de carreira em Londres

Por Suzi Ring, Gavin Finch e Chiara Albanese.

O ex-corretor da ICAP estava no bar, de copo na mão, rodeado de integrantes de seu coletivo de house music, o Hellsinki-V.

Vestidos com a roupa característica de cientistas malucos – aventais de laboratório e óculos 3D –, Danny Wilkinson e seus colegas de banda estavam celebrando o fim do ano na badalada região de Hoxton Square, em Londres.

Foi um ano agitado, com apresentações no Lechlade Music Festival, na Inglaterra, e até em Ibiza.

Para Wilkinson, a banda é um segundo ato – parte trabalho, parte diversão – após sua carreira em finanças terminar bruscamente. Ele está entre as dezenas de corretores e negociadores de instrumentos financeiros demitidos após terem sido implicados em uma conspiração global para manipular a taxa de empréstimos interbancários de Londres (Libor), que é uma importante referência mundial de juros. Embora tenha sido inocentado no julgamento sobre a manipulação da Libor, ele foi efetivamente exilado do setor.

“Após 25 anos na City, de repente me vi em casa pensando no que iria fazer”, disse Wilkinson, 50 anos, se referindo ao distrito financeiro da cidade. Ele costumava ganhar até 1 milhão de libras esterlinas (US$ 1,2 milhão) por ano. “Fui DJ em muitas festas domésticas de acid house na década de 80 e sempre amei música.”

Agora, ele é DJ de uma estação de rádio aos finais de semana e toca regularmente em clubes e festivais com a banda. Segundo ele, não é um trabalho em tempo integral, mas o grupo está sendo cada vez mais solicitado e se prepara para lançar um single, um remix da música “Let Me Be Your Fantasy”, sucesso de Baby D nos anos 90.

Não é fácil equiparar os salários obtidos no setor financeiro.

Terry Farr foi corretor da RP Martin Holdings antes de ser inocentado no julgamento sobre a Libor, juntamente com Wilkinson. Agora, às sextas-feiras, ele vende plantas e sementes na cidadezinha de Brentwood. De boina marrom, casaco verde e jeans, ele conversa com os moradores e dá descontos aos clientes fiéis.

Durante o resto da semana, ele trabalha em feiras perto de Essex e Londres e presta serviços de jardinagem, sempre levando sua cadela Lily. Farr, 45 anos, conta que ganha aproximadamente 10 por cento do salário de seis dígitos que embolsava antigamente.

“Mesmo tendo sido julgado e considerado inocente, é uma mancha”, disse Farr, que voltou ao trabalho que fazia com o pai na adolescência. “Sinto falta de trabalhar em Londres. Sinto falta da energia da mesa de negociação.”

Mudou o jogo

Os que foram exilados após o escândalo da Libor e subsequentemente de manipulação de taxas de câmbio estão entre milhares de profissionais da City que ficaram desempregados desde a crise financeira de 2008. O fim da fase de ascensão dos bancos graças ao endividamento trouxe um período de queda de lucros, maior vigilância regulatória e pouca tolerância para quem carrega acusação de má conduta.

“A Libor mudou o jogo para a reabilitação de uma carreira em finanças”, disse Richard Burger, advogado do escritório londrino RPC e que já trabalhou para a agência reguladora dos mercados do Reino Unido. “Mesmo se a pessoa é exonerada, frequentemente é vista como um risco muito grande.”

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