Desaceleração do comércio coloca crescimento mundial em risco

Por Simon Kennedy.

As maiores economias do mundo estão tendo cada vez mais dificuldade para conseguir se livrar dos problemas com a ajuda do comércio.

Antes a mola do crescimento global, o comércio internacional não conseguiu se recuperar completamente da recessão de 2009 e está desacelerando novamente. As exportações chinesas recuaram 5,5 por cento em agosto em relação ao ano anterior, e as dos EUA caíram 3,5 por cento. A Coreia do Sul e Cingapura sofreram declínios de dois dígitos.

Refletindo essa fraqueza, a Organização Mundial do Comércio (OMC) reduziu nesta semana a previsão para o comércio neste ano, de 3,3 por cento para 2,8 por cento. A organização admitiu que talvez a nova projeção seja “excessivamente otimista”.

Esses coeficientes são inferiores à média de 5 por cento registrada nos últimos 20 anos. Ficaram para trás a década de 1990 e o princípio dos anos 2000, quando o comércio avançou duas vezes mais rapidamente do que o crescimento econômico – é provável que 2015 seja o quarto ano consecutivo em que ambos tenham se expandido mais ou menos ao mesmo ritmo.

Ainda mais preocupante, Carl Weinberg, economista-chefe da High Frequency Economics, em Valhalla, Nova York, indica que o total de exportações mundiais até junho ficou abaixo dos níveis do ano passado a uma taxa anualizada de US$ 1,6 trilhão, o equivalente a 2,1 por cento do PIB global.

Isso ampliou o declínio nas importações durante os seis primeiros meses do ano para 11 por cento em relação ao ano anterior, o suficiente para gerar preocupações com a economia mundial, considerando-se a estimativa de Weinberg de que há uma correlação de 70 por cento entre os movimentos de expansão e de exportação.

“A contração do comércio mundial ainda não chegou ao fim”, disse Weinberg. “Talvez isso seja mais do que um vento contrário, talvez seja um tornado econômico”.

Desaceleração da China

A perspectiva mais pessimista para o comércio provavelmente é uma das razões que levaram o FMI a se preparar para reduzir a projeção de 3,3 por cento para o crescimento mundial deste ano durante as reuniões anuais que acontecerão em Lima na próxima semana.

Por trás da mais recente desaceleração do comércio estão a diminuição do ritmo da China e de outros mercados emergentes, crises nos países ricos em commodities e a valorização do dólar. Contudo, mudanças estruturais também estão interferindo, pois países como os EUA e a China estão dependendo de uma produção doméstica maior e menos acordos comerciais estão sendo fechados, o que sugere que talvez a globalização tenha atingido seu ápice.

Há certa esperança. Economistas do Credit Suisse Group AG dizem que, embora dependam das exportações, a zona do euro e o Japão conseguiram atravessar bem a fraqueza da atividade comercial graças à produção de bens de tecnologia de ponta e à queda das taxas de câmbio. A OMC prevê uma aceleração do comércio no próximo ano, para 3,9 por cento.

Um relatório da empresa de pesquisa Gavekal Dragonomics também sugeriu que talvez exista uma nova fase da globalização, liderada pelos serviços e por empresas inovadoras nos países avançados, em vez das multinacionais e das economias da Ásia Oriental.

Fatia do comércio

Contudo, se o comércio de fato não conseguir se recuperar, Adam Slater, economista da Oxford Economics Ltd., projeta que haverá uma pressão contínua para baixo sobre os yields dos bonds e novos esforços dos países para prosperar através da desvalorização das moedas.

“A tentação de agarrar uma fatia maior de determinado comércio provavelmente vai aumentar”, disse Slater.

Não se sabe o que isso produziria. O FMI sugeriu nesta semana que uma moeda 10 por cento mais barata poderia incrementar as exportações a uma média de 1,5 por cento do PIB. Em contraste, o Banco Mundial estimou recentemente que a desvalorização cambial só produziu metade dessa eficiência em aumentar as exportações entre 2004 e 2012 em relação ao patamar dos oito anos anteriores.

Como os mercados emergentes estão comercializando entre si cada vez mais, talvez seja “o caso de que, em vez de que o resultado líquido seja um zero, o impacto geral da desvalorização cambial talvez seja um valor negativo”, disseram Janet Henry e James Pomeroy, economistas do HSBC Holdings Plc, em um relatório desta semana.

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