Desastre em MG mostra que Brasil não tem líder

Por Mac Margolis.

Não sabemos o que deu errado na mina no Sudeste do Brasil no dia 5 de novembro. Não sabemos o que causou a ruptura de duas barragens que inundaram uma cidade com lama e resíduos da mina. Até agora, oficialmente morreram nove pessoas, 19 estão desaparecidas e a lama está contaminando o solo e a água potável, talvez por centenas de quilômetros.

Sabemos o que deu errado após o desastre. A resposta do governo nacional para o desastre, ou a falta de resposta, já é um estudo sobre o que não se deve fazer. Durante dias, enquanto as equipes de resgate procuravam sobreviventes, as autoridades nacionais brasileiras não falaram quase nada.

O conglomerado minerador brasileiro Vale, coproprietário da mina onde ocorreu o acidente, também evitou o público no começo, optando por divulgar um comunicado de imprensa superficial um dia após o acidente, deixando seu operador local, a Samarco Mineração, responsável pela comunicação. (A Vale e a BHP Billiton, cada uma com participação de 50 por cento na Samarco, mais tarde realizaram uma conferência de imprensa conjunta perto do local da mina e se comprometeram a fazer todo o possível para ajudar as vítimas e reparar os danos. As duas empresas poderiam enfrentar US$ 265 milhões em multas). O promotor estadual de Justiça do Meio Ambiente, Carlos Eduardo Ferreira Pinto, afirmou que o desastre não foi um acidente; reguladores estaduais suspenderam a licença da mina. O silêncio de Brasília, no entanto, soou estranho.

Só na quinta-feira passada, sete dias após a tragédia, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, foi até a região atingida, e mesmo assim examinou a devastação de um helicóptero. Mais tarde naquele dia, ela anunciou uma multa de US$ 66 milhões contra a companhia de mineração e comparou os danos aos causados pela explosão da plataforma de petróleo Deepwater Horizon da BP em 2010, que matou 11 pessoas e derramou mais de três milhões de barris de petróleo no Golfo do México.

Dilma poderia ter olhado, em vez disso, para o Chile. Em 2010, quando uma mina de ouro desmoronou e 33 trabalhadores ficaram presos no subsolo profundo, o recém-eleito presidente Sebastián Piñera imediatamente mandou seu ministro de Mineração para o local da mina, em seguida voou para lá ele mesmo para supervisionar a emergência. Piñera também convidou engenheiros da NASA para participarem do esforço de resgate e estava presente quando o último mineiro foi tirado em segurança, 69 dias mais tarde.

Desde que o escândalo de corrupção na Petrobras estourou, no início do ano passado, Dilma parece decidida a fazer o oposto. Com índices de aprovação de apenas um dígito, a economia muito mal e ameaças de impeachment ainda em curso no Congresso, ela parece ter excluído as más notícias e se limitado a um ritual Panglossiano, ou seja, muito otimista, de trabalho. Nos dias críticos após o desastre da mineradora, enquanto as equipes de defesa civil procuravam sobreviventes na lama, ela recebeu a Princesa Akishino do Japão em Brasília, depois voou para o Rio para inaugurar conjuntos habitacionais de baixa renda e uma nova linha de metrô.

Um manto de dúvidas paira sobre a catástrofe mineira. Como é que duas barragens “totalmente seguras” segundo as autoridades locais romperam? Por que as pessoas no caminho do perigo não foram avisadas e evacuadas a tempo? Como os reguladores e as empresas de mineração podem garantir a confiabilidade das milhares de outras barragens de contenção, sendo que duas dúzias delas são listadas pelas autoridades federais de mineração como estruturas de “alto risco”, para não mencionar o resto da arriscada infraestrutura do país?

Dilma não foi pessoalmente responsável pela tragédia de 5 de novembro, nem ninguém espera que ela mesma investigue o que aconteceu. No entanto, ela deveria fazer o que só uma autoridade eleita pode fazer: exigir explicações, pressionar as autoridades locais e iniciar um debate nacional sobre o que é necessário para prevenir futuros acidentes e minimizar os danos causados por falhas inevitáveis. Mas ela não pode mostrar aos brasileiros esse caminho em um momento de crise se ela não aparecer.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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