Desastres em minas mostram custo soluções baratas para resíduos

Por Danielle Bochove.

Enquanto companhias mineradoras do mundo inteiro reavaliam a forma de armazenar dejetos após mais um terrível vazamento em uma barragem, a solução poderia ser tão simples quanto drástica: gastar muito mais.

As imagens das enxurradas de lama em cidades e rios poderiam ficar no passado se as minas utilizassem diferentes tipos de armazenamento, como a remoção de água ou a construção em terrenos mais estáveis. Embora isso possa custar até dez vezes a mais para empresas já pressionadas pela queda dos preços, o custo é muito mais alto quando as coisas saem errado.

Os custos de limpeza do vazamento ocorrido no dia 5 de novembro na Samarco, a joint venture de minério de ferro da BHP Billiton e da Vale, provavelmente superarão US$ 1 bilhão, além de anos de produção perdida, disse o Deutsche Bank.

“A falha é muito mais cara do que fazer as coisas do modo certo”, disse Dirk van Zyl, professor de Engenharia da Mineração na Universidade de Colúmbia Britânica e um dos três especialistas em um painel sobre o rompimento de uma barragem ocorrido no ano passado no Canadá.

O vazamento da Samarco, que expulsou uma enxurrada de lama para as comunidades abaixo, ocorre um ano após a mina da Imperial Metals em Mount Polley, Canadá, também ter vazado bilhões de litros em lagos e rios. Uma característica comum a ambos os casos foi a fluidez dos dejetos.

‘Revisão minuciosa’

A Samarco diz que suas barragens foram consideradas seguras em uma inspeção realizada em julho e que é cedo demais para determinar os motivos do vazamento. Na segunda-feira, o CEO da BHP, Andrew Mackenzie, disse que a empresa está “realizando uma revisão minuciosa de todas as instalações de nossas barragens”. No mesmo dia, a Vale disse que está aberta a melhorias, mesmo após concluir que suas outras instalações, que utilizam práticas de segurança de ponta, estavam em completa conformidade.

Os dejetos das minas são as pedras moídas e os efluentes que restam após a trituração. E no que tange ao armazenamento, quanto mais seco, melhor, disse van Zyl em entrevista por telefone.

As instalações de pilhas secas de dejetos, utilizadas no Chile, onde os terremotos são comuns, podem custar dez vezes mais do que os lagos localizados rio acima, nos quais os dejetos dispensados se transformam na base para futuros diques, disse van Zyl. A segunda melhor opção, construir armazéns em terra virgem e limitar a quantidade de água, poderia custar o dobro disso, disse ele.

Estragos

Contudo, esses custos mais altos em investimento e operação não são nada em comparação com os gastos associados a um acidente catastrófico.

Seja qual for a causa, não há dúvida de que os estragos causados por ambos os vazamentos teriam sido muito menores se os resíduos das minas fossem menos fluídos, disse David Chambers, presidente do Centro para Ciência em Participação Pública, uma organização sem fins lucrativos com sede em Bozeman, Montana. Ele é um dos autores de um estudo, pendente de avaliação pelos colegas, que prevê que o número de falhas catastróficas aumentará porque as mineradoras se sentem tentadas a construir lagos de maior tamanho rio acima para cortar custos.

Os órgãos reguladores precisam proibir a construção rio acima e os “fechamentos úmidos” dos antigos lagos de resíduos, nos quais se permite a permanência da água, disse Chambers. Consultado se o incidente no Brasil mostra que as companhias mineradoras precisam de uma nova forma de armazenar os dejetos das minas, o coordenador da resposta de emergência do Ibama disse que “isso deve ser avaliado”, sem dar mais detalhes.

A forma de armazenar os resíduos das minas variará em cada local, disse Ben Chalmers, vice-presidente de desenvolvimento sustentável da Associação de Mineração do Canadá, em entrevista. Certos dejetos com muito sulfeto poderiam ser mais seguros sob certa quantidade de água, ao passo que o armazenamento seco talvez não seja viável em climas úmidos ou em minas de produção muito elevada, disse ele.

“A resposta rápida é sim, é mais caro”, disse Chuck Jeannes, CEO da Goldcorp, em entrevista. “Mas a resposta mais longa é: eu não acredito que seja tão caro quanto muitos acham”.

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