A melhoria da eficiência no consumo de combustível de uma aeronave é um dos pilares por trás dos esforços do setor de aviação para reduzir as emissões de dióxido de carbono. Com muitas das maiores companhias aéreas do mundo renovando suas frotas com uma fabricação mais eficiente, os ganhos provavelmente serão vistos no mercado. Entretanto, para que o setor atinja de fato seus objetivos ambiciosos de emissões, mais inovações serão necessárias.
A BloombergNEF espera que a eficiência média no consumo de combustível da frota de aeronaves global continue a melhorar esta década, principalmente com as tecnologias existentes. Porém, no longo prazo, tecnologias disruptivas serão necessárias para que as companhias aéreas cumpram os objetivos de emissões líquidas zero entre 2040 e 2050.
Duas razões estão por trás desta suposição. Em primeiro lugar, as aeronaves convencionais de carga e passageiros apresentam menos oportunidades para grandes avanços em uma melhor eficiência no consumo de combustível. Em segundo lugar, esses ganhos por si só não são suficientes para alcançar os objetivos de emissões líquidas zero do setor. De fato, sendo impulsionado pela crescente demanda global por viagens aéreas, o aumento do total das emissões de CO2 do setor da aviação a partir de 2019 provavelmente superará qualquer quantidade de redução das emissões obtida por meio da introdução de aeronaves mais eficientes no consumo de combustível.
A economia de combustível melhorará nesta década com base em tecnologias existentes
A eficiência no consumo de combustível do setor da aviação é medida pela quantidade de combustível de jato queimado por passageiro ou assento. Com o combustível representando 30% dos custos operacionais de uma companhia aérea, a eficiência no consumo de combustível tem um impacto direto na lucratividade.
A economia média global de combustível melhorou em mais de 2% ao ano entre 1990 e 2019. Assim que a demanda por viagens aéreas se recuperar do impacto da pandemia da Covid-19, ela continuará melhorando principalmente com base em tecnologias existentes.
As séries Airbus A320neo e Boeing B787 usam motores novos que queimam menos combustível, como a turbina com engrenagem da Pratt & Whitney, dispositivos na ponta das asas para reduzir o arrasto e uma maior participação de plásticos reforçados com fibra de carbono (CFRP) para reduzir o peso. O B777X da Boeing, uma nova variante com asas longas retráteis para gerar mais elevação, está programado para começar a operar em 2024. Companhias aéreas como a Emirates Airline, a Qatar Airways e a Singapore Airlines encomendaram um total de 334 unidades do B777X. Em geral, as aeronaves de nova geração podem consumir 15-20% menos combustível por assento do que suas antecessoras.
A tecnologia não é o único causador de melhorias na economia de combustível. Os aviões velhos, atingindo uma vida útil típica de 20 a 25 anos, e a pressão para reduzir as emissões de CO2 estão impulsionando as renovações das frotas. O relatório da BNEF, Aircraft Technology Outlook: Fuel Efficiency, descobriu que quase 14.000 aeronaves de fuselagem estreita e larga estão programadas para serem entregues a partir de 2022, sendo que pelo menos 34% delas serão provavelmente entregues até 2025. A frota total de aeronaves que está ativa, em manutenção ou sob reparos era de cerca de 21.400 unidades em 19 de maio de 2022, de acordo com dados provenientes da ch-aviation.
Além disso, o aumento dos custos totais de carbono com os quais as companhias aéreas sediadas na União Europeia devem arcar provavelmente será um sinal forte para investir em tecnologias de redução de CO2, incluindo aeronaves mais eficientes no consumo de combustível. A perspectiva de mercado do Sistema de Comércio de Emissões da União Europeia para o 1º semestre de 2022 pela BNEF espera que o preço do carbono no esquema de comércio de emissões da UE aumente para 136 euros por tonelada métrica até 2030, saindo de um preço médio de 80 euros em dezembro de 2021.
Além de 2030: uma grande janela de oportunidade para a renovação de aeronaves
Um total de cerca de 12.500 aeronaves de fuselagem estreita e larga atingirá 20 anos de idade entre 2030 e 2040, marcando um momento em que muitas companhias aéreas podem impulsionar o investimento na renovação das frotas. O pico para tais compras poderia surgir por volta do final dos anos 2030. Nessa altura, o setor da aviação pode precisar de tecnologias disruptivas, como o motor de rotor aberto, que está em fase de desenvolvimento pela CFM International, e novos projetos de aeronaves, como aeronaves com asa com contraventamento (strut-braced), para obter melhorias de dois dígitos na eficiência do consumo de combustível.
Nesse momento, as aeronaves convencionais de carga e passageiros terão uma margem menor para grandes melhorias na eficiência do consumo de combustível. Tais melhorias tecnológicas também são críticas, pois a maioria das aeronaves introduzidas na década de 2030 provavelmente continuará voando em 2050, momento em que o setor de aviação busca ter emissões líquidas zero de CO2. Nem a Airbus ou a Boeing anunciaram novos programas de desenvolvimento de aeronaves, além dos conceitos de aeronaves movidas a hidrogênio da Airbus.
O investimento em tecnologias disruptivas é fundamental para a meta de descarbonização a longo prazo
As aeronaves com emissão zero e as novas tecnologias de produção de combustível para aviação sustentável (SAF) serão fundamentais para a redução de emissões na aviação no longo prazo. No entanto, o investimento em empresas que trabalham nessas duas vias é responsável por apenas uma pequena parcela dos fundos direcionados para startups de aviação com baixa emissão de carbono.
Dos 7,5 bilhões de dólares arrecadados desde 2017 até o primeiro trimestre deste ano, 65% foram para empresas de mobilidade aérea urbana ou de entrega no último quilômetro, que provavelmente adicionarão à demanda de viagens aéreas em vez de rebater a maior parte das emissões do setor. A BNEF acredita que uma rápida expansão de investimentos é necessária em aeronaves elétricas e movidas a hidrogênio, bem como SAF para nutrir o desenvolvimento de tecnologias a ritmos mais acelerados.
Este artigo é baseado nos relatórios de pesquisa da BNEF “The chart is from BNEF’s 2022 Aviation Fuel Outlook: Virus DisruptionLingers On”, “ Aircraft Technology Outlook: Fuel Efficiency”, “1H 2022 EU ETS Market Outlook” e “Low-Carbon Aviation Technology Startup Investment Trends”.
Sobre a BloombergNEF
A BloombergNEF (BNEF) é fornecedora de pesquisas estratégicas que abrange os mercados mundiais de commodities e tecnologias disruptivas, que impulsionam a transição para uma economia de baixo carbono. Nossa cobertura especializada avalia os caminhos percorridos pelos setores de eletricidade, transporte, construção, agricultura e industrial para se adaptar à transição energética. Ajudamos os profissionais de negociação de commodities, estratégia corporativa, finanças e políticas a navegar pelas mudanças e gerar oportunidades.