Desequilibrado, Brasil precisa reduzir o setor público para crescer, afirma Haass da CFR

O Brasil precisa diminuir o tamanho do seu governo para voltar a ter crescimento econômico, de acordo com Richard Haass, presidente do Conselho das Relações Exteriores (Council on Foreign Relations). As relações da presidente brasileira com a corrupção minam sua capacidade de lutar contra ela, disse ele para Tom Keene e Michael McKee, da Bloomberg, em entrevista realizada no dia 8 de setembro. As suas declarações foram editadas e condensadas.

P: Qual é a receita para a presidente do Brasil, Dilma Rousseff?
R: Vai ser preciso passar por grande limpeza e redução de entulhos. O nível da corrupção institucionalizada é profundo. O problema é que ela não possui a credibilidade para acabar com a corrupção por estar associada a ela. E, ainda mais importante, é preciso reduzir o tamanho do governo e do setor público.

O Brasil é muito desequilibrado (top heavy). É quase como se tivesse ignorado o trabalho intelectual de pensar em reformas nas últimas décadas. Portanto, a menos que o Brasil diminua a participação do setor público e permita que o setor privado trabalhe de maneira justa, de uma forma não corrupta, o país não vai crescer.

P: Os gastos do governo são insustentáveis?
R: Absolutamente. E eles tiveram algumas reformas e acabaram sobrepujados novamente pelo governo avançado para compensar a diminuição do ritmo da economia. É algo triste. É aquele velho ditado sobre o Brasil, é um país com um grande futuro e sempre vai ser assim.

Achávamos que o Brasil tinha escapado daquela armadilha. Agora, infelizmente, parece que o Brasil está de volta exatamente ao mesmo lugar. Além disso, há notícias terríveis que continuam a sair da Argentina e grandes preocupações em relação ao México.

P: Os mercados oferecem os incentivos para mudança e reforma ou são outra Argentina?
R: Não acredito que sejam outra Argentina por não verem o tipo de abuso que há do topo. A Argentina foi amaldiçoada de algumas formas. Mas é preciso ficar preocupado com as eleições no próximo mês. É possível que realmente não haja uma transição no cenário, como seria de se esperar. O Brasil poderia estar indo muito melhor. Se você olhar para os ingredientes básicos, os recursos humanos, as oportunidades físicas lá, a população… Tem tudo no papel. Simplesmente não consegue ter o sistema político e a liderança política para fazer tudo funcionar.

P: Será que a saída de Dilma Rousseff é necessária para atingir esse estágio?
R: Se ela precisar ir embora para o cenário melhorar é, provavelmente, uma notícia ruim, já que não estou convencido de que ela vá sair, tendo em vista o cenário atual. Então, de alguma forma, é preciso atentar aos próximos quatro anos. É preciso pensar que ela ainda vai estar por lá. E a dúvida que fica é como o Brasil começa a sair da situação em que se colocou com ela ainda no poder?

P: Como Washington deve receber a visita dos líderes chineses marcada para este mês?
R: Xi Jinping chega a Washington com, provavelmente, o cenário mais complicado enfrentado por qualquer líder mundial. São problemas de todos os lados, do sistema financeiro às bases da economia. São os desafios demográficos, desafios ambientais. São os desafios políticos. O regime está nervoso. A sua legitimidade está baseada no crescimento econômico que, simplesmente, não está nem perto de ser sustentável.

P: Você acredita, com todo o seu aparato de análise, que a legitimidade do regime esteja ameaçada?
R: Acredito que sim. Acho que a ideia de turbulências generalizadas, profundas, na China não pode ser descartada. A China não pode continuar trabalhando como se estivesse tudo normal. O modelo não pode funcionar. Eles estão tentando fazer essa mudança radical do modelo baseado nas exportações para outro baseado na demanda doméstica. Simplesmente não há demanda suficiente para isso. Não há a confiança na economia. O regime está intranquilo.
 

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