Por Stephen Kirkland e Jeremy Herron.
A desvalorização do yuan feita pela China desencadeou a maior queda em um único dia desde 1994, gerando uma reação em cadeia nos mercados do mundo inteiro, pois afetou concorrentes e despertou a preocupação de que o crescimento da segunda maior economia do mundo esteja avançando para uma desaceleração mais profunda.
A decisão do Banco Popular da China (PBOC, na sigla em inglês) de reduzir sua taxa de referência em 1,9 por cento arrastou para baixo as moedas asiáticas e empurrou para baixo as ações de exportadores na Europa. As ações de mercados emergentes despencaram e ficaram à beira de um mercado baixista, e houve uma corrida para venda de metais industriais, enquanto que a demanda por refúgios de títulos e ouro cresceu vertiginosamente.
“É lógico que os principais exportadores da Europa, como as fabricantes alemãs de veículos e produtos de luxo, caiam muito porque para elas será mais difícil vender na China”, disse François Savary, diretor de investimentos em Genebra da Reyl Cie., que supervisiona cerca de US$ 11 bilhões. “Obviamente, há medo de uma guerra cambial cada vez mais intensa”.
Quedas
As empresas americanas e europeias que dependem de vendas para a China caíram e as fabricantes de veículos e os produtores de bens de luxo lideraram as perdas. A General Motors Co. e a Ford Motor Co. caíram mais de 2,2 por cento. A Caterpillar Inc., a Tiffany Co. e a Apple Inc. perderam 1,9 por cento cada uma. A Google ganhou 3,5 por cento depois de dizer que se reorganizará sob uma nova companhia controladora, a Alphabet Inc.
A mudança na política econômica da China chega após a publicação de relatórios econômicos neste mês que mostraram uma queda nos embarques para o exterior, uma fabricação industrial mais fraca do que a prevista e uma desaceleração do crescimento do crédito. A medida aumenta o risco de desvalorizações cambiais competitivas à medida que a demanda diminui e alimentou a especulação de que os bancos centrais, dentre eles o Federal Reserve (Fed), manterão as taxas de juros baixas durante mais tempo.
O yuan caiu 1,8 por cento, para 6,3231 por dólar, em Xangai, e recuou 2,8 por cento na negociação offshore. A maior baixa da taxa em um único dia desde que a China unificou as taxas em janeiro de 1994 foi um ajuste pontual, disse o PBOC em um comunicado.
A desvalorização desencadeou quedas de mais de 1 por cento nas moedas da Austrália, da Coreia do Sul e de Cingapura, cuja moeda experimentou o maior recuo desde 2011. Um indicador da Bloomberg que acompanha vinte taxas de câmbio de países em desenvolvimento caiu 0,4 por cento. O rublo da Rússia caiu 1,9 por cento devido à queda do petróleo.
Dívida em dólares
O MSCI Emerging Markets Index perdeu 0,9 por cento, prolongando os declínios registrados desde que chegou a um pico em setembro de 2014 para mais de 20 por cento, ficando prestes a fechar em um mercado baixista. As empresas aéreas chinesas lideraram o retrocesso devido à preocupação de que um yuan desvalorizado impulsionará os custos de pagar dívidas denominadas em dólares, enquanto que os exportadores ganharam com a especulação de que as moedas desvalorizadas os tornarão mais competitivos no exterior.
O cobre, o níquel e o estanho caíram pelo menos 2,5 por cento em Londres. O alumínio recuou 2 por cento depois que o Goldman Sachs Group Ltd. diminuiu suas previsões de preços para o metal.
O ouro para entrega imediata apagou um declínio anterior, ganhando 0,6 por cento, para US$ 1.111,22 por onça, e a prata e a platina também avançaram.
O yield do bund da Alemanha a dez anos caiu cinco pontos-base, ou 0,05 ponto porcentual, para 0,65 por cento. Os yields das notas de referência do Tesouro dos EUA a dez anos caíram oito pontos-base, para 2,15 por cento, e os da dívida do governo do Reino Unido com vencimento a dez anos caíram oito pontos-base, para 1,84 por cento.
As ações gregas subiram pelo quarto dia consecutivo, pois o país e seus credores chegaram a um acordo para estabelecer os termos do terceiro resgate do país.
O yield sobre os bonds italianos a dez anos caiu cinco pontos-base, para 1,79 por cento, já que os títulos dos países-membros da zona do euro com ratings mais baixos receberam um estímulo adicional com o acordo da Grécia.
Para ter acesso a notícias em tempo real entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.