Detentores de títulos venezuelanos mostram nervos de aço

Por Christine Jenkins e Sebastian Boyd.

Quanto você confia na Venezuela?

Esta é a pergunta crucial para quem detém US$ 2 bilhões de dólares em títulos da petrolífera estatal que vencerão no mês que vem e são negociados por 95 por cento do valor de face. Investidores com nervos de aço talvez consigam lucro rápido se tudo correr bem e a Petróleos de Venezuela SA (PDVSA) honrar sua dívida. Mas sempre há chance de isso não acontecer.

Há anos existe expectativa de calote pela Venezuela. Os rendimentos dos títulos denominados em dólar emitidos pelo país estão entre os maiores do mundo, diante da ameaça onipresente de colapso. A nação tem as maiores reservas de petróleo do mundo, porém enfrenta uma escassez crônica de dólares que dizimou as reservas do banco central e deixou o governo sem dinheiro para importar remédios e outras necessidades básicas para a população.

“A posição vendida em títulos venezuelanos funcionou toda vez”, disse Daniel Urdaneta, estrategista da Knossos Asset Management, em Caracas. “Até o dia em que não funcionar.”

Os gestores da Knossos conhecem bem os riscos. No começo do ano passado, o fundo de hedge despejou metade de seu dinheiro nos títulos venezuelanos que estão prestes a vencer. Em 45 dias, ganhou 12 por cento – ou mais de 150 por cento em termos anualizados. Desta vez, o fundo está mais defensivo, apostando em títulos de prazo mais longo e preço menor.

Os papéis da PDVSA com vencimento em 12 de abril oferecem rendimento anualizado de 80 por cento, refletindo o entendimento de que a Venezuela é a nação com maior chance de dar calote ao longo do próximo ano. Segundo os contratos que protegem contra não pagamento (credit-default swaps ou CDS), essa probabilidade é de 34 por cento.

As reservas internacionais estão em US$ 10,4 bilhões, o menor nível em 14 anos. Já os pagamentos restantes sobre títulos neste ano somam US$ 9 bilhões. A simples matemática preocupa os investidores.

Ainda assim, Nomura Holdings e Torino Capital afirmam que a PDVSA provavelmente honrará seu próximo pagamento, embora a perspectiva para o resto do ano pareça mais arriscada.

Francisco Rodriguez, o economista-chefe da Torino em Nova York, acredita que, após realizar o pagamento de abril, a estatal poderá tentar mudar o perfil das dívidas que vencem nos próximos meses e anos, como foi feito no ano passado. Os títulos da PDVSA que vencem em seguida — novembro de 2017 — são negociados por aproximadamente 87 por cento do valor de face. Alguns títulos de prazo mais longo, como os que vencem em 2035, são negociados por menos de 50 por cento do valor de face.

“A companhia pode planejar uma operação de gestão de passivos antes do fim do ano”, ele disse. “Não temos certeza se tal operação seria bem sucedida.”

Para Siobhan Morden, estrategista-chefe de renda fixa para América Latina da Nomura, a forma de pagamento pela PDVSA – seja pelo uso de reservas internacionais ou de recursos fora do balanço patrimonial – pode sinalizar quando ocorrerá um eventual calote.

No curto prazo, os investidores podem obter lucros generosos. “Acho que os títulos serão pagos e ainda vão se beneficiar do processo de aproximação do valor de face”, ela disse. “Restam poucos pontos nessa operação. E claro que alguns pontos por algumas semanas formam algo atraente.”

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