Dilema de BCE no mercado é o que acontece quando a oferta de bonds se esgota

Por Alastair Marsh e David Goodman.

Como o Banco Central Europeu está adquirindo bonds em um esforço por estimular a economia da zona do euro, os responsáveis pela política econômica em Frankfurt enfrentam um dilema: o que fazer quando eles ficarem sem títulos para comprar.

No atual ritmo, o BCE devorará a oferta inteira de bonds elegíveis do Banco Europeu de Investimento e de tomadores similares de empréstimos em março, segundo o Barclays Plc. A falta de emissão líquida dos governos da zona do euro está restringindo a disponibilidade de títulos, e o Banco Central disse recentemente que as aquisições de bonds com garantias hipotecárias estão se tornando mais desafiadoras.

O presidente Mario Draghi pretende manter o programa, chamado flexibilização quantitativa, até setembro de 2016. Apesar de que 85 por cento dos economistas consultados pela Bloomberg neste mês disseram que o BCE continuará atingindo sua meta de 60 bilhões de euros (US$ 66 bilhões) por mês, uma escassez de ativos poderia exigir um ajuste na forma em que a instituição faz isso.

“Vai acabar mal”, disse Jussi Harju, estrategista do Barclays em Frankfurt. “A escassez de certos ativos provavelmente exija que o BCE reaja, o qual poderia adotar a forma de uma lista expandida de bonds elegíveis”.

O BCE já mostrou flexibilidade na sua abordagem do programa. O membro da Comissão Executiva Benoît Cœuré disse em 18 de maio que o Banco Central aumentaria o ritmo de compras de bonds para combater uma liquidez mais baixa antecipada em julho e agosto, uma “antecipação” das aquisições.

Estímulo ao mercado

Por enquanto, as aquisições conseguiram estimular o mercado de bonds. Os yields dos bonds espanhóis a dez anos caíram para o valor mínimo recorde de 1,05 por cento em 12 de março, na primeira semana de compras do BCE, quando as negociações entre a Grécia e seus credores estavam se tornando cada vez mais azedas. Embora o yield espanhol agora seja de 1,98 por cento, o valor ainda equivale a menos de um terço do 7,75 por cento que tinha em 2012, um recorde para a zona do euro.

Para cumprir sua meta de flexibilização quantitativa, o BCE poderia incrementar a quantidade de certos tipos de bonds que pode adquirir.

A instituição tentará aumentar um limite atual de aquisições de 25 por cento de cada bond emitido pelos chamados mutuários supranacionais, como o Banco Europeu de Investimento, ou eliminará a alocação de 12 por cento do seu total de compras de bonds do setor público que tais títulos podem ocupar, segundo o Barclays.

Bonds com garantias hipotecárias

No mercado de bonds com garantias hipotecárias, onde o BCE se limitou a um máximo de 70 por cento de cada venda de bonds, o banco disse em comentários publicados neste mês que as aquisições estavam se complicando. Apesar de ter comprado 108,1 bilhões de euros dos títulos desde outubro, as aquisições dos bonds vêm declinando desde junho.

Os bonds com garantias hipotecárias costumam ter ratings mais altos e yields mais baixos do que as notas sem garantia por estarem garantidos pelo emissor e terem um conjunto designado de ativos, tais como hipotecas e créditos do setor público, que poderia ser utilizado para os pagamentos.

O BCE também poderia ser dificultado por uma escassez de bonds soberanos. Contabilizando as amortizações, prevê-se que apenas a Itália, a Espanha, a Irlanda, a Finlândia e a Holanda vendam mais dívida da que o BCE tem agendado comprar pelo restante deste ano, segundo dados compilados pela Bloomberg.

“Eles precisam ser flexíveis em relação a qual parte da curva compram e reagir às condições do mercado”, disse Owen Callan, estrategista de renda fixa da Cantor Fitzgerald LP em Dublin. “Com a antecipação de aquisições que fizeram de maio a julho, eles já mostraram capacidade para fazer isso”.

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