Dilma sai, e investir no Brasil está se tornando mais complicado

Por Paula Sambo, Aline Oyamada e Denyse Godoy.

Por meses, investir no Brasil tem sido uma facilidade. Comprar qualquer classe de ativos entregou alguns dos maiores ganhos do mundo diante das apostas de que a presidente Dilma Rousseff estava prestes a deixar o governo e a nova liderança iria restaurar o crescimento e conter o déficit fiscal recorde.

Agora que Dilma sofreu o impeachment, selecionar ações e bonds está prestes a se tornar mais complicado. Aqui estão o que alguns dos principais analistas e investidores do país estão sugerindo para os próximos meses, enquanto o recém-empossado presidente Michel Temer dá início a sua administração.

Enquanto a S&P alertou que a euforia do impeachment cegou os traders aos riscos nos títulos de dívida corporativa do Brasil, Patrik Kauffmann afirma que ainda há oportunidades a lucrar para investidores seletivos, mesmo após os bonds no exterior retornarem praticamente o dobro da média nos mercados emergentes. O gestor de recursos na Solitaire Aquila, em Zurique, tem estado otimista com o Brasil no último ano, e seu fundo de alocação estrangeira superou 97% de seus pares em 2016.

Kauffmann está otimista em bonds de estatais e demais empresas controladas pelo governo, especialmente a Petrobras. Kauffmann diz que os yields para os ativos de referência podem cair 2 pontos porcentuais nos próximos meses, colocando seus custos de empréstimos mais próximos, em linha com sua contraparte mexicana, a Pemex.

O gestor também afirmou que a empresa de utilidade pública Centrais Elétricas Brasileiras e o Banco do Brasil continuarão o rali. Kauffmann recomenda evitar notas de exportadoras, como Embraer, Vale e BRF, que já estão negociando em linha com seus pares globais.

Enquanto os principais ganhadores desse ano nos mercados acionários têm sido os produtores de commodities, algumas das melhores apostas são companhias dependentes de demanda doméstica, de acordo com Matheus Tarzia, um parceiro na Neo Investimentos. Ele afirmou que a rede farmacêutica Raia Drogasil e a Fleury, uma provedora de serviços médicos, devem continuar a performar bem, junto com alguns provedores de serviços como a desenvolvedora de softwares Totvs. O fundo de ações Navitas Master, gerenciado pela firma, está superando 94% de seus pares nesse ano, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Adeodato Volpi Netto, o head de mercados de capitais na Eleven Financial Research, disse que as siderúrgicas devem se beneficiar das percepções de que a produção industrial aumentará sob o novo governo, e recomenda ações da Gerdau.

Após o retorno de 49% em moeda local, mais ganhos estão em perspectiva para os bonds do governo denominados em dólar, afirma a Aberdeen, especialmente em bonds de longo prazo, sob a visão de que as taxas de juros locais têm mais espaço para quedas à medida que a inflação desacelera.

“Se você ama as taxas de juros como nós amamos, você precisa estar comprando e embarcar na longa duração”, disse Edwin Gutierrez, o head de dívida soberana em mercados emergentes da londrina Aberdeen, que gerencia US$ 420 bilhões.

A moeda, por outro lado, não vai apreciar muito mais, diz, e após o melhor salto no mundo neste ano, de 23%, ela está vulnerável a declínios caso a economia global piore. Arnaud Masset, um analista na Swissquote Bank em Gland, Suíça, e um dos principais nomes para estimativas quanto ao real nesse trimestre, tem visão similar.

Sean Newman, gestor de recursos sênior na Invesco Advisers em Atlanta, cuja companhia supervisiona US$ 800 bilhões em ativos, diz que o custo pode recuar para formar uma proteção contra as perdas na dívida soberana em dólar do país. Newman, que tem 20 anos de experiência em mercados emergentes, projeta que o CDS (Credit Default Swap) de cinco anos irá declinar 20 pontos-base e que haverá uma queda similar nos yields da dívida soberana.

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