Dilma trabalha intensamente enquanto Congresso está em recesso

Por Anna Edgerton e Arnaldo Galvão.

A antes movimentada Brasília se transformou em outra cidade dormitório no Planalto Central durante o atual recesso de seis semanas do Congresso. O trânsito na Esplanada dos Ministérios desapareceu, os restaurantes estão um tanto vazios e o ritmo frenético do aeroporto no início e no fim da semana diminuiu.

Mas apesar dessa calma aparente, a presidente Dilma Rousseff e sua equipe estão trabalhando duro.

O governo está telefonando para parlamentares e se reunindo com líderes empresariais para aproveitar as vitórias políticas obtidas nas últimas semanas de 2015. Vitórias que aumentaram seu capital político, entre as quais se encontra a aprovação do Orçamento de 2016 pelo Congresso e a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o rito do impeachment, favorável ao governo. A decisão da presidente de substituir o ministro da Fazenda por alguém visto como mais próximo do PT também eliminou uma fonte de tensão dentro do governo.

O governo está apostando que seus esforços para aumentar o ímpeto durante o recesso irá melhorar as chances de derrubar o impeachment e garantir a aprovação de medidas para acabar com a recessão. Esse otimismo contrasta com o sentimento do início do mês passado, quando o governo pressionava os parlamentares para permanecerem em Brasília durante o recesso para resolver as crises política e econômica antes que a opinião pública pudesse se voltar ainda mais contra a presidente.

“A briga do Legislativo com o Executivo e também do Legislativo com o Judiciário e com o Ministério Público ocupava grande parte das manchetes do jornal, não abrindo espaço para estas mensagens que o governo gostaria de reforçar”, disse Paulo Calmon, professor de Ciências Políticas da Universidade de Brasília.

Investidores céticos

Dilma se reuniu com repórteres de política em um café da manhã, na semana passada e nesta, para anunciar que seu governo multiplicará esforços para aumentar a confiança na economia, combater a inflação, hoje em dois dígitos, e reduzir o maior déficit orçamentário já registrado. “Vamos lutar com unhas e dentes para que ocorra”, disse ela na sexta-feira.

Os investidores se mostram céticos quanto ao sucesso dessa iniciativa. O Ibovespa caiu 8,9 por cento nas duas primeiras semanas do ano e o real teve desvalorização de 0,9 por cento frente ao dólar.

A interrupção do colapso econômico e a melhora fiscal do Brasil podem depender, em grande parte, da aprovação no Congresso das medidas para aumentar os impostos e reduzir os gastos. Muitos parlamentares da base do governo estão usando o tempo sem reuniões das comissões e das votações noturnas para conclamar os colegas a apoiarem a agenda da presidente, disse o deputado federal Eduardo da Fonte, líder do Partido Progressista na Câmara.

“O recesso é bom para o governo porque temos mais tempo para preparar a base aliada para apoiar medidas importantes para enfrentar a crise econômica”, disse ele.

Processo de impeachment

O principal item na agenda do Congresso em seu retorno, no dia 1º de fevereiro, é o impeachment, mas o feriado do Carnaval, nos dias 8 e 9 de fevereiro, pode adiar qualquer avanço real até meados do mês. Dilma enfrenta as acusações de que violou a lei de responsabilidade fiscal usando manobras contábeis, as chamadas pedaladas, para minimizar o tamanho do déficit do Orçamento. Ela nega irregularidades.

Até deputados de oposição que apoiam o impeachment da Presidente, como o líder do Democratas na Câmara, Mendonça Filho, reconheceram nesta semana que o apoio à cassação de Dilma perdeu força. As manifestações destinadas a angariar apoio ao impeachment da presidente, no mês passado, atraíram multidões menores que aquelas em apoio ao governo.

Mas a Operação Lava Jato, ampla investigação de corrupção na Petrobras, ameaça envolver o governo brasileiro e interromper seu momento recente mais positivo. Na semana passada, a imprensa noticiou que três ministros de Dilma, incluindo o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, estão sendo investigados por mensagens trocadas com um empresário preso por corrupção. Os três ministros negaram irregularidades. O escândalo, somado à piora econômica, aumentará o apoio ao impeachment, disse Mendonça Filho.

Os desafios políticos sem dúvida persistirão, mas Dilma ainda pode conseguir começar o novo ano legislativo em posição melhor que em 2015, disse Riordan Roett, diretor de Estudos Latino-americanos da Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins.

“Os ânimos acirrados poderão esfriar um pouco depois do Carnaval”, disse ele.

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