Diretores do Fed querem virada radical com chegada de Powell

Por Jeanna Smialek e Matthew Boesler.

Integrantes do banco central dos EUA fazem campanha por uma mudança radical no manual de política monetária. O Federal Reserve pode aproveitar o momento de calmaria econômica e a chegada de um novo presidente para se preparar para a próxima tempestade.

A economia americana vive seu terceiro período mais longo de expansão. Inflação e juros permanecem baixos, o que significa que, em uma situação de piora da economia, o Fed tem pouco espaço para flexibilizar a política monetária porque a taxa básica de juros logo chegaria perto de zero novamente.

Jerome Powell foi indicado para assumir o Fed em fevereiro. Enquanto isso, personalidades influentes na instituição, como os diretores dos escritórios regionais de São Francisco (John Williams) e Chicago (Charles Evans), tomaram a frente da campanha para o banco central reconsiderar a meta de inflação de 2 por cento.

“É boa hora por causa da mudança de liderança”, opinou o diretor do escritório de Atlanta, Raphael Bostic, em conversa com repórteres na terça-feira. “Quando a pessoa nova chega, dá para pensar de verdade como tudo deve funcionar, como acham que deveria funcionar e se é compatível com onde já estivemos e onde pretendemos chegar.”

Formalização

Em 2012, o Fed oficializou a inflação em 2 por cento como meta explícita de estabilidade de preços, que corresponde à metade de seu mandato duplo definido pelo Congresso. A outra metade é o máximo nível sustentável de emprego.

A decisão formalizou uma política que a instituição seguia na prática há vários anos e era fundamentada por um raciocínio preciso: 2 por cento é um patamar alto o bastante para garantir que os trabalhadores continuem recebendo aumentos salariais e para dar ao Fed alguma folga para não bater na deflação. Outras economias avançadas usam meta similar para os índices de preços.

No entanto, representantes do Fed — sendo Williams o mais explícito — defendem que o Comitê de Mercado Aberto (FOMC), que decide a política monetária, reavalie essa abordagem.

O motivo? A meta foi definida em uma época em que o banco central não achava que teria problemas se subisse os juros para 2 por cento ou mais sem reprimir o crescimento econômico. Só que os fundamentos da economia mudaram desde a crise. Crescimento e produtividade têm mostrado lentidão.

Consequentemente, a chamada taxa de juros neutra – que não acelera nem desacelera a atividade econômica – está baixíssima pelos padrões históricos, deixando o Fed com menos margem de manobra.

Permitir um aumento um pouco maior dos preços daria ao Fed mais espaço para flexibilizar a política monetária na próxima fase ruim da economia. A taxa básica de juros (Federal Funds Rate) é nominal e não ajustada pela inflação. Sendo assim, se o juro real neutro for 0,5 por cento e a variação anual de preços estiver na casa de 3 por cento, o Fed poderia elevar os juros para até 3,5 por cento antes que sua postura se tornasse restritiva. Se a inflação ficar em apenas 2 por cento, o juro nominal seria 2,5 por cento.

Williams disse a repórteres no início de novembro que gostaria de discutir agora o assunto, embora não queira atrelar as conversas à estratégia de curto prazo da casa.

“Seria ótimo ter uma decisão sobre qual seria o melhor arcabouço para usarmos antes da recessão”, segundo ele, porque vai “demorar algum tempo” para as autoridades elaborarem uma política tão importante.

Entre as abordagens alternativas estão permitir que a variação dos preços supere a meta pelo mesmo período que fica abaixo da meta (a chamada meta de nível de preços) ou até subir a meta de inflação para 3 por cento.

Outra opção menos radical seria o Fed formalizar sua inclinação a ultrapassar a meta de inflação ao estimar variação acima de 2 por cento em suas projeções trimestrais para a economia, de acordo com o economista do Bank of America Merrill Lynch, Ethan Harris.

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