Discussão sobre saída de Levy realça dor para investidores

Por Filipe Pacheco e Emma Orr.

Fotógrafo: Thomas Lee/Bloomberg

Independentemente de o pressionado ministro da Fazenda, Joaquim Levy, manter seu cargo, uma coisa está dolorosamente clara para os investidores em bonds: o mandato dele, até aqui, foi sinônimo de grandes prejuízos.

A dívida do governo na moeda local caiu 28 por cento em dólares desde que Levy assumiu, em 5 de janeiro. É o maior declínio entre os mercados emergentes monitorados pelo JPMorgan.

Está aumentando a especulação de que a presidente Dilma Rousseff substituirá Levy em um momento em que a maior economia da América Latina sofre sua pior recessão em 25 anos. Levy, 54, tem tido dificuldades para levar adiante medidas de austeridade que, segundo ele, são necessárias para restabelecer as finanças do Brasil diante da crescente oposição do Congresso.

Levy “nunca imaginou que a contração da atividade seria tão acentuada quanto acabou sendo até aqui em 2015 e como se espera que seja em 2016”, disse Alejo Czerwonko, estrategista da UBS Wealth Management, por e-mail de Buenos Aires. “Nesse contexto, a implementação de um ajuste fiscal pró-cíclico se mostrou mais difícil e doloroso do que ele pensava. Ele provavelmente nunca pensou que enfrentaria um Congresso tão pouco amigável”.

Dilma está resistindo à pressão dos políticos da base aliada e de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, para demitir Levy, disse um membro do governo com conhecimento das discussões. Ela não planeja tirar Levy do cargo e não está convencida a nomear o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, disse a pessoa, que pediu anonimato porque as conversas não são públicas.

A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda não respondeu aos telefonemas e e-mails em busca de comentário. A assessoria de imprensa da Presidência preferiu não comentar.

O anúncio da nomeação de Levy, em novembro de 2014, inicialmente impulsionou o otimismo entre os investidores em bonds de que o Brasil arrumaria suas finanças. O ex-chefe da Bradesco Asset Management e ex-secretário do Tesouro havia ajudado a abrir caminho para a classificação de grau de investimento do Brasil, em 2008, reduzindo os níveis de dívida do país no governo Lula.

Impopular no Congresso

Mas os esforços de Levy para cortar gastos e elevar os impostos o tornaram cada vez mais impopular no Congresso em um momento em que a crise econômica se aprofunda, um escândalo de corrupção sem precedentes corrói os mercados financeiros e Dilma enfrenta cada vez mais pedidos de impeachment.

A S&P cortou a classificação do Brasil para o grau especulativo em setembro, quarto rebaixamento desde 2014. O produto interno bruto encolherá 2,5 por cento neste ano e 0,5 por cento em 2016, segundo a agência. Esta seria a recessão mais longa desde a Grande Depressão.

“Esta não é uma guerra de um homem só”, disse Bruno Rovai, economista para o Brasil no Barclays, por e-mail. “A enorme decepção com as condições financeiras agora é canalizada por meio de Levy. Por isso, seja quem for o ministro da Fazenda, ele sempre será o vilão. Uma liderança política extremamente fraca em um Congresso muito dividido torna quase impossível avançar com a agenda de ajuste e reforma”.

Para ter acesso a notícias em tempo real entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.
 

Agende uma demo.