Dívida da JBS premia investidor que fez aposta de risco

Por Gerson Freitas Jr.

Comprar títulos de dívida da JBS na baixa não é para os fracos de coração, mas tem se provado uma estratégia vencedora.

O último escândalo parecia devastador para a maior produtora de carnes do mundo. A delação dos irmãos Wesley e Joesley Batista, que admitiram um amplo esquema de pagamento de propinas a políticos, alimentou temores de que a empresa não seria capaz de refinanciar suas dívidas de curto prazo.

As notas da JBS com vencimento em 2024, no valor de US$ 750 milhões, perderam quase 20% de seu valor nos dias que sucederam a notícia sobre a delação dos irmãos Batista. No entanto, o mergulho durou pouco. Depois de atingir um piso em 15 de junho, os papéis já se valorizaram em 17 por cento. Foi o maior retorno entre quase mil títulos de dívida corporativa nos mercados emergentes, que apresentaram um ganho médio de 0,6% no período.

Esse nível de volatilidade não é exatamente uma novidade para quem investe em dívida da JBS. Os bonds da JBS já haviam derretido em novembro de 2015, quando o Tribunal de Contas da União viu indício de “tratamento especial” do BNDES nas transações com o frigorífico. Novos mergulhos foram observados em janeiro do ano seguinte, quando o Ministério Público acusou Joesley Batista de crimes financeiros e, de novo, em julho e setembro, quando a Polícia Federal fez buscas e apreensões no escritório que abriga os negócios da família.

“É extraordinário quantas vezes a JBS deu às pessoas a oportunidade de reentrar”, disse Ian McCall, um investidor que administra US$ 180 milhões em ativos de mercados emergentes pela Quesnell Capital, em Genebra, e que mais dobrou sua exposição a títulos da JBS desde de que a última crise estourou. “[A estratégia] continua se pagando”.

A J&F Investimentos, holding dos irmãos Batista, aceitou pagar R$ 10,3 bilhões em 25 anos como parte de um acordo de leniência com o Ministério Público para encerrar os inquéritos relativos ao pagamento de propinas em transações com a Caixa Econômica Federal, o FI-FGTS e os fundos de pensão, bem como a fiscais agropecuários. Mas a JBS segue alvo de outras investigações, incluindo as que apuram suspeitas de uso de informação privilegiada em operações com derivativos cambiais e ações.

O humor dos investidores melhorou em meio a uma série de notícias que reduziram a preocupação com a solvência das empresas controladas pelos irmãos Batista. Com o acordo de leniência já assinado, a empresa chegou a um acordo para vender a Alpargatas, e está em conversas avançadas para vender seus negócios de lácteos e celulose. Só a JBS prometeu levantar R$ 7 bilhões por meio por meio de desinvestimentos, incluindo algumas operações de carne bovina na América do Sul, pelas quais a Minerva aceitou pagar cerca de R$ 1 bilhão. O frigorífico também chegou a um acordo com os bancos credores, que asseguraram a manutenção das linhas de crédito para a empresa.

A JBS, que possui operações de bovinos, frangos e suínos em quatro continentes, também deve reportar uma melhora de seus resultados operacionais no segundo trimestre diante da forte queda nos custos com ração e aquisição de gado, de acordo com a média das estimativas de analistas compiladas pela Bloomberg.

Nem todo o dano foi desfeito, no entanto. O rendimento (yield) dos títulos da JBS ainda está mais de um ponto percentual acima do nível observado antes da delação, sinalizando que os investidores exigem um prêmio maior para comprar o papel. O yield está ainda 5 pontos percentuais acima do que é pago nos títulos da americana Tyson Foods, o dobro do que se observava no início de maio.

“Houve uma mudança estrutural na percepção de risco para esta empresa”, afirma Soummo Mukherjee, diretor executivo da Mizuho Securities , em Nova York. Para Mukherjee, o potencial de valorização dos títulos da JBS é limitado nos preços atuais, já que os investidores ainda estão precificando o risco de penalidades adicionais contra a empresa.

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