Por Gerson Freitas Jr., Cristiane Lucchesi e Felipe Marques.
Em meio à escalada das investigações sobre irregularidades envolvendo a JBS e seus controladores, no ano passado, os irmãos Joesley e Wesley Batista assumiram sem alarde a propriedade integral da holding da família, ampliando suas dívidas pessoais combinadas para R$ 2,6 bilhões (US$ 790 milhões).
Os irmãos que estão no epicentro do mais recente escândalo de corrupção do Brasil compraram as participações de suas três irmãs na J&F Investimentos, uma empresa de capital fechado que detém o controle da JBS e das outras empresas da família, pagando apenas um quinto do valor de mercado de suas participações indiretas na JBS, segundo as declarações de imposto de renda de Wesley e Joesley Bastista de 2017, que integram os documentos divulgados no âmbito do acordo de delação premiada assinado em maio.
Os irmãos fecharam ainda um acordo semelhante, por valor do de mercado, com os controladores da Blessed Holdings, empresa que aparecia entre os acionistas controladores da JBS desde 2009 e cuja identidade dos antigos proprietários é investigada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
As declarações de imposto mostram que os irmãos haviam assumido o controle pleno da J&F em dezembro. Wesley e Joesley Batista declararam ter adquirido, junto às firmas de investimento de suas irmãs Valére, Vanessa e Vivianne, participações idênticas de aproximadamente 20 por cento na J&F por um valor declarado de R$ 591 milhões cada, totalizando R$ 1,18 bilhão. A aquisição incluiu uma participação indireta combinada na JBS de 18 por cento, fatia avaliada em R$ 5,6 bilhões com base no preço médio das ações do frigorífico em dezembro. No fim de 2016, Wesley e Joesley Batista ainda não haviam pago pelo negócio, o que ampliou suas dívidas pessoais para R$ 1,3 bilhão por irmão, segundo as declarações de impostos.
A J&F e a JBS preferiram não comentar sobre a mudança e as condições das transações.
A família Batista, liderada por Joesley, de 45 anos, e Wesley, de 47, ganhou destaque internacional durante uma década de aquisições que somaram US$ 20 bilhões e transformaram seu matadouro familiar na maior produtora mundial de carnes. No âmbito do acordo de delação premiada fechado em maio, os irmãos admitiram atos de corrupção e revelaram aos investigadores brasileiros que a ascensão meteórica da empresa não teria sido possível sem uma rede sombria de pagamentos de propinas a políticos e uma série de negócios com o BNDES. As fraudes que eles descreveram, supostamente envolvendo o presidente da República entre mais de 1.800 políticos, são tão amplas que reconduziram o Brasil ao caos político um ano após o impeachment de Dilma Rousseff.
Não está claro por que a família decidiu trocar os ativos de mãos, e as condições financeiras das transações, incluindo o cronograma de pagamentos, não foram reveladas. A informação sobre o aumento das dívidas pessoais dos irmãos Batista surge em meio ao temor crescente de que a J&F possa ter problemas de liquidez com a disparada dos custos dos empréstimos da empresa e as multas aplicadas pelo Ministério Público Federal à família e ao grupo empresarial. Os dois irmãos fecharam acordo para pagar R$ 225 milhões em multas e a J&F pagará R$ 10,3 bilhões ao longo de 25 anos.
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