Por Christopher Condon.
A apreciação do dólar pode ser a maior lombada no percurso da economia americana em 2017. Pode ser bom ou ruim. Depende de o presidente eleito Donald Trump seguir adiante com as promessas para acelerar o crescimento.
O Bloomberg Dollar Spot Index, que acompanha os movimentos do dólar em relação a 10 moedas importantes, subiu 5,7 por cento desde a eleição em 8 de novembro, graças em parte a expectativas de impostos menores, gastos públicos maiores e regulamentos menos rígidos no governo Trump. Tudo isso pode acelerar o crescimento e colocar em xeque as decisões do banco central, o Federal Reserve.
O potencial estímulo viria em um momento em que o desemprego já está em seu menor nível após a recessão, de 4,6 por cento, e a inflação se aproxima da meta do Fed, de 2 por cento. Em dezembro, mesmo sem contemplar totalmente os planos fiscais de Trump, integrantes do banco central elevaram de dois para três o número de acréscimos de juros projetados em 2017, sinalizando maior confiança na economia. A presidente do Fed, Janet Yellen, até alertou parlamentares em audiência no Congresso, em 17 de novembro, que o novo estímulo fiscal poderia ter “consequências inflacionárias” que a instituição precisaria levar em conta.
Neste contexto, o fortalecimento do dólar ajudaria o Fed a impedir um superaquecimento da economia, ao limitar as exportações e a inflação caso Trump entregue de fato seus planos de impulso ao crescimento.
No entanto, se o empurrãozinho de Trump não se concretizar ou demorar para impactar a atividade econômica, a apreciação do dólar pode se provar prematura e problemática.
“As cotações do mercado implicam perfeição nos EUA”, disse Lee Ferridge, estrategista sênior de macroeconomia na State Street, em Boston, se referindo à recente disparada do dólar. “Se partes da política fiscal forem atrasadas ou diluídas, ou não tiverem o impacto no crescimento que todo mundo aparentemente espera, pode ser que o crescimento fique menor por causa do impacto do dólar e do impacto dos juros maiores.”
Fraqueza no exterior
A apreciação do dólar também reflete o panorama internacional. Para 2017, economistas sondados pela Bloomberg projetam expansão do PIB de 2,2 por cento nos EUA, 1,4 por cento na zona do euro e 1 por cento no Japão.
Crescimento maior e juros maiores em relação a outras grandes economias criam mais demanda pelo dólar, à medida que empresas estrangeiras expandem sua presença nos EUA e investidores compram ativos financeiros denominados em dólar. Por sua vez, a alta do dólar prejudica o crescimento ao tornar as exportações americanas menos competitivas e reprime a inflação ao baratear produtos importados.
Geralmente, o movimento cambial tem impacto marginal em relação aos ganhos oriundos do crescimento econômico. Mas a alta recente do dólar foi grande o bastante para segurar a atividade. Em julho de 2015, dois economistas do escritório do Fed em Nova York, Mary Amiti e Tyler Bodine-Smith, escreveram que uma apreciação de 10 por cento no dólar durante um trimestre poderia reduzir o crescimento ao longo de um ano em 0,5 ponto percentual, caso o câmbio mais valorizado persista. Incluindo a apreciação ocorrida antes da eleição, o dólar se fortaleceu 7,1 por cento no quarto trimestre de 2016, o maior ganho trimestral desde 2008.
Ferridge ressaltou que o ritmo da economia já é lento em termos históricos.
“O crescimento do PIB foi de apenas 1,7 por cento no terceiro trimestre em relação a um ano antes”, ele disse. “Se houver uma redução de 0,5 ponto percentual por causa do dólar, isso é significativo.”
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