Por Josué Leonel e Vinícius Andrade com a colaboração de Davison Santana.
Pela terceira vez em menos de seis meses, o dólar esteve perto de quebrar o nível de R$ 3,10, à medida que o real se fortalece impulsionado pelo otimismo com as reformas e acompanhando o ganho de outras moedas no exterior. Mas, também pela terceira vez, a moeda americana não furou a barreira.
Para analistas do mercado, se o dólar rompesse essa marca, o Banco Central poderia agir, reduzindo ou até eliminando a rolagem do próximo vencimento de swaps cambiais. O dólar só parou de cair, porém, quando o próprio presidente do BC, Ilan Goldfajn, reforçou essa expectativa, ao admitir que a decisão de rolar ou não os swaps de março dependerá das “condições de mercado”.
Ilan não citou o nível de R$ 3,10 como o ponto que levaria o BC a rolar menos ou deixar de rolar os swaps. Mas foi nesse preço, pouco após a moeda atingir a mínima de R$ 3,1025, que seu comentário foi divulgado, levando o dólar a subir imediatamente. Coincidência ou não, a mínima anterior tinha sido atingida em 25 de outubro, quando o dólar bateu em R$ 3,1022. Na época, um dia antes, o BC já havia adiantado que não rolaria os swaps do vencimento seguinte. A mínima precedente havia sido um pouco maior, de R$ 3,1141, em10 de agosto. No dia seguinte, a queda foi barrada com o aumento do volumede swaps reversos.
Relatório da equipe de estrategistas da BBH Global disse que os comentários de Ilan sugerem desconforto do BC com o nível do real em relação ao dólar. Para a BBH, uma queda mais forte do dólar poderia levar o BC a agir com swaps reversos e também via política monetária, com cortes mais agressivos dos juros. “A partir do momento em que BC se manifesta, especula-se que taxa de câmbio abaixo disso incomoda”, disse Hideaki Iha, operador de câmbio da Fair Corretora.
Embora o BC sempre ressalte que não busca fixar um valor para o câmbio, operadores consideram que o objetivo de manter o dólar mais alto seria evitar contratempos para as exportações. Como a inflação já está na meta, não teria sentido para o BC deixar o real se fortalecer demais. Por esta visão, o custo de um real forte para a balança comercial seria alto sem que haja um ganho especial para a inflação, que já está baixa.
A ideia de que R$ 3,10 é um piso, contudo, não é aceita generalizadamente. “O mercado pode entender como um piso, mas, se a moeda tiver que ir abaixo de R$ 3,10, ela vai. O BC não vai lutar a fogo contra isso”, diz Gustavo Rangel,economista do ING para América Latina, em Nova York.
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