Por Lilian Karunungan com a colaboração de Andrew Janes, Haidi Lun e Rishaad Salamat.
Há muitos investidores interessados em títulos de mercados emergentes, mas preocupados com a elevação dos rendimentos por causa do aumento dos juros pelo banco central dos EUA. Para quem pensa assim, uma alternativa é avaliar o que já foi uma opção mais arriscada: títulos denominados em moeda local.
Países como Indonésia e Brasil registram suas menores taxas de inflação, o que significa que as nações em desenvolvimento não enfrentam as mesmas pressões de episódios anteriores de aperto monetário nos EUA. E com o dólar se depreciando apesar dos acréscimos na taxa básica de juros pelo Federal Reserve, as dívidas em moeda local afastam o investidor de outras preocupações, como a maior oferta de títulos do Tesouro americano.
“Em um período de dólar fraco, os títulos em moeda local de mercados emergentes se beneficiarão da melhora do componente cambial”, explicou Manu George, diretor sênior de investimentos em renda fixa asiática da Schroder Investment Management, em Cingapura. “O retorno dos títulos locais de mercados emergentes pode superar o retorno dos títulos em dólar.”
Desde o começo do ano, os títulos em moeda local oferecidos pelos governos de países em desenvolvimento geraram retorno de 1,9 por cento, estendendo o ganho do ano passado, de mais de 14 por cento. Já os títulos em dólar de mercados emergentes, incluindo dívidas corporativas, perderam 1,9 por cento neste ano, de acordo com índices Bloomberg Barclays.
Para alguns, os instrumentos em moeda local podem até funcionar como refúgio se as tensões comerciais se intensificarem. As medidas protecionistas do presidente americano, Donald Trump, colocaram em evidência o déficit comercial e a maior necessidade de crédito da principal economia do mundo, que enfrenta ampliação do déficit fiscal.
Sem dúvida
“Eu aproveitaria qualquer fraqueza para ampliar a exposição a risco cambial de mercados emergentes”, disse Edwin Gutierrez, responsável por dívidas soberanas de mercados emergentes da Aberdeen Standard Investments, em Londres, se referindo a temores relacionados a uma potencial guerra comercial. Ele prefere papéis em “moeda local, sem dúvida, por causa do dólar fraco”.
Seus investimentos favoritos são títulos em moeda local emitidos por Brasil, Índia e Rússia, porque os juros desses países permanecem altos em relação à inflação. O Bloomberg Dollar Spot Index, que mede o desempenho do dólar em relação a 10 moedas de importância global, já recuou 3,1 por cento neste ano, depois de perder 8,5 por cento em 2017.
Os títulos em moeda forte dos países em desenvolvimento tendem a ficar em desvantagem porque permanecem “muito correlacionados” com os títulos do Tesouro americano, disse Jean-Charles Sambor, responsável por renda fixa de mercados emergentes da BNP Paribas Asset Management, em Londres.
‘Ainda bastante interessantes’
Nos EUA, o Fed tomou sua primeira decisão de juros sob o novo comandante, Jerome Powell. A taxa básica subiu 0,25 ponto percentual na quarta-feira e a instituição sinalizou uma trajetória de acréscimos mais acentuados em 2019 e 2020, citando a melhora da perspectiva econômica. A curva de juros dos títulos do Tesouro americano ficou mais inclinada para os prazos de 2 a 10 anos ontem.
Embora o potencial para reduções “maciças” nos prêmios sobre as dívidas em moeda local tenha acabado após a grande valorização desses papéis, Sambor, da BNP Paribas, afirma que existem investimentos “ainda bastante interessantes” em mercados como Índia, Indonésia, Brasil e Peru.
Os preços dos papéis ainda são atraentes, especialmente no caso dos títulos em moeda local, e o mundo ainda está longe de uma guerra comercial arrastada, disse Andre de Silva, responsável global por juros de mercados emergentes do HSBC Holdings, em Hong Kong.
Porém, os títulos em dólar não são carta fora do baralho. George, da Schroder, afirma que “uma alta dos rendimentos tornaria atraentes os títulos em dólar de mercados emergentes de alta qualidade e provavelmente vamos ampliar nossa exposição se os rendimentos derem sinais de estabilização”. Ele prefere títulos corporativos por causa do rendimento maior e citou como exemplos os papéis da Pemex e da Petrobras.
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