Dólar pressiona expectativa de inflação e traz incerteza

Notícia exclusiva por Josué Leonel.

A expectativa de inflação para 2016 parou de cair e ensaia alta, o que pode representar um desafio extra para o BC, que tem se concentrado na promessa de levar o IPCA para o centro da meta, de 4,5%, no final do próximo ano, e prepara-se para encerrar o ciclo de alta dos juros.

A promessa do BC foi sempre vista com ceticismo. Ainda assim, a estimativa dos analistas do mercado para o IPCA na pesquisa Focus vinha diminuindo lentamente desde o final de 2014. No melhor momento, em junho, a projeção mediana dos 5 analistas com maior percentual de acerto chegou a cair para 5,45%, ainda longe da meta de 4,5%, mas bem abaixo dos 9,3% deste ano, o suficiente para alimentar apostas de que o BC poderia voltar a cortar os juros entre março e abril de 2016.

Esta tendência de arrefecimento das expectativas, contudo, foi interrompida a partir de julho. Na pesquisa da semana passada, divulgada nesta segunda-feira, a mediana das previsões subiu para 5,7% na pesquisa Top 5, o maior nível desde fevereiro. Na pesquisa geral, com cerca de 100 bancos, a previsão é um pouco menor, mas ainda assim em 5,44%, também longe da meta perseguida pelo BC.

A piora recente das expectativas, que ocorre mesmo com as projeções apontando recessão de 2% em 2015, decorre principalmente da pressão no câmbio. O dólar sobe 31% este ano, pressionado por uma combinação de riscos representada pela crise política e econômica no Brasil, desvalorização da moeda na China e expectativa de alta dos juros americanos.

O impacto da alta do dólar nas expectativas inflacionárias a partir de 2016 poderia ser ainda maior não fosse a recessão e a sinalização de menor pressão das tarifas de energia após a elevação deste ano, diz o economista Jose Antonio Pena, da Portopar Investimentos. Ele lembra que a pesquisa Focus desta semana passou a mostrar projeção de PIB negativo também em 2016. Uma economia mais fraca ajuda a reduzir o repasse da alta do dólar para os preços.

O impacto do dólar nas expectativas inflacionárias, segundo Pena, não deve alterar os planos do BC de interromper a alta da Selic. Para ele, um sinal veio da própria ata do Copom, quando o BC afirmou que o BC se manteria vigilante em caso de ’’desvios significativos’’ da inflação em relação à meta.

Pena considera ainda que uma inflação ligeiramente acima da meta em 2016, como prevê o mercado, não impedirá o BC de retomar o corte dos juros no próximo ano. “Em algum momento em 2016, o horizonte do BC vai começar a mudar para 2017”.

O BC não necessariamente precisa esperar que a projeção do mercado esteja cravada na meta para agir. Pelo contrário, a principal referência do BC é a sua própria projeção, que apontava IPCA de 4,8% em 2016 segundo o último relatório de inflação. A questão é que o diferencial entre as duas projeções está muito aberto, o que mostra que as expectativas não estão melhorando justamente no mercado, o que supostamente seria o objetivo do BC.

A corretora Bradesco também considera que a deterioração recente das expectativas inflacionárias foi modesta, o que pode ser explicado pelo efeito da fraca atividade sobre o repasse do câmbio para os preços. Contudo, nota assinada por Dalton Gardiman e outros economistas da corretora afirma que as expectativas para a inflação em 2016 podem continuar aumentando. Isso, juntamente com a piora fiscal, pode levar o BC a elevar novamente a Selic em setembro, uma hipótese que ainda não está nos preços do mercado.

Embora o mercado e o BC estejam contando com uma melhora de expectativas para a partir de 2016, o fato de as previsões, no caso da inflação, estarem muito condicionadas ao dólar empresta um grau de incerteza grande para o comportamento dos preços e, por extensão, à política do próprio BC, uma vez que o real tem sido a moeda mais volátil do mundo.

Nesta última pesquisa Focus, os economistas aumentaram a previsão para o câmbio em 2016 de R$ 3,50 para R$ 3,60, um nível não muito distante do patamar atual, perto de R$ 3,50. A mesma pesquisa divulgada no início deste ano, porém, mostrava dólar a R$ 2,80 no final deste ano, um dado totalmente superado apesar de ainda faltarem 4 meses para o final do ano.

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