Draghi quer número menor de bancos. Precisará de sorte

Por Lionel Laurent.

A Europa tem bancos demais. O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, sabe disso, assim como o CEO do Deutsche Bank, John Cryan, e até os comentaristas do Twitter sabem. Sendo assim, é vergonhoso que fusões entre bancos na zona do euro ainda sejam tão difíceis.

Claramente há pouco apetite para diminuir a oferta no setor bancário da região, que abriga aproximadamente 6.000 instituições, ainda que isso possa aliviar os problemas atrelados a taxas de juros negativas e lentidão econômica. Neste ano, o total de transações concluídas tendo como alvo um banco da Europa Ocidental é de apenas US$ 132,2 milhões, ou 99 por cento a menos do que no mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Bloomberg.

O volume de acordos envolvendo bancos da América do Norte e da Europa Ocidental nos últimos seis anos foi menos da metade do observado nos seis anos anteriores, segundo a Bloomberg News.

É óbvio que existem boas razões para evitar acordos dessa natureza no atual ambiente. As ações dos bancos da zona do euro são negociadas por metade do valor contábil no momento, o que, teoricamente, indica que essas instituições estão baratas. Mas se as ações dos potenciais compradores também estão na rua da amargura, não é tão interessante tentar comprar rivais usando ações.

Nem é fácil convencer os investidores sobre uma fusão “transformadora” se a perspectiva é tão ruim. Os lucros dos bancos da zona do euro recuaram 80 por cento desde o fim de 2007 e os analistas estimam queda de 9 por cento nos ganhos neste ano. Além disso, existe o risco de execução da fusão.

Ainda assim, o maior obstáculo é regulatório. Isso é mais óbvio na Itália, mercado lotado com 650 bancos e uma das piores taxa de inadimplência em empréstimos da Europa. Neste ano, foi anunciada a maior fusão bancária do país desde 2007, quando duas instituições financeiras no formato de cooperativa decidiram se unir. O que surpreendeu os investidores foi a pressão do BCE para que fosse realizado um aumento de capital de 1 bilhão de euros para dar solidez à entidade combinada, o que estragou a festa e complicou ainda mais a concretização do acordo. A maior autoridade de supervisão bancária do BCE, Daniele Nouy, deixou claro que não queria uma fusão qualquer, mas apenas novas entidades que fossem “fortes desde o início”. No mundo real, isso significa que investidores e executivos temem diluição de valor, não importa se os bancos permaneçam solteiros ou arranjem casamento.

Esta coluna já defendeu que, diante dos apuros dos bancos europeus, merecem ser olhados com carinho até acordos motivados por desespero, como uma fusão entre Deutsche Bank e Commerzbank. Mas para convencer os bancos a tentar acordos domésticos ou internacionais, é preciso acrescentar incentivos e eliminar dificuldades. Em última instância, isso depende do BCE, mesmo enquanto defende que os bancos assumam mais responsabilidade por seus problemas internos. Draghi até pode querer reduzir o setor financeiro, mas a instituição que ele comanda não está ajudando.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do conselho editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.

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