Por Felipe Saturnino e Josue Leonel
Banco Central deve manter Selic estável a 6,5% no Copom desta semana, dizem economistas, mesmo com o recente pico do dólar, que chegou ao nível mais alto em dois anos e fez o BC intensificar a ação no mercado de câmbio para acalmar os ânimos, e também para conter um maior estresse na curva dos juros futuros. O DI agora precifica ao menos 200 pontos-base de aumento neste ano, levando em conta a piora do cenário externo e o risco de que nenhum candidato pró-mercado chegue ao 2º turno das eleições.
Em seu nível mais depreciado desde março de 2016, o dólar foi cotado a R$ 3,9657 na máxima, o que forçou o BC elevar a oferta de swaps realizando leilões extras desde então. A divisa reagiu na sessão seguinte, caindo 5%, mas nos pregões subsequentes voltou a passar de R$ 3,80. Na última quinta-feira, o BC afirmou que prolongaria os leilões de swap para conter a volatilidade do câmbio.
“Pode ser uma decisão de última hora para o BC”, disse Danny Fang, estrategista de câmbio do BBVA. O cenário econômico no Brasil é diferente do da Argentina e da Turquia, que sofreram crises cambiais recentemente e subiram juros, disse Fang, mas a pressão sobre o real está ficando maior. “Acho que o BC vai acabar cedendo e subindo os juros” na quarta, afirmou.
Enquanto isso, a precificação do mercado de juros futuros indica expectativa de aumento da ordem de 20 pontos-base já neste Copom. Investidores reagem à elevação das taxas de juros nos EUA em meio à expectativa de ainda mais duas altas neste ano, além da percepção de incerteza eleitoral.
Prêmio na curva
“Obviamente, muito disso é prêmio de risco pela má dinâmica de curto prazo, pelo fato de o BC ter voltado atrás no Copom passado e por ele tentar segurar o câmbio”, disse Matheus Gallina, operador de renda fixa da Quantitas. E, segundo ele, caso haja alta de juros, a pressão na curva deve continuar.
Economistas monitoram possível impacto da depreciação na inflação medida pelo IPCA, que prossegue abaixo do piso de 3% da meta. Lembram ainda a reiterada ênfase do BC de que não há relação mecânica entre política monetária e câmbio, para manter a aposta de que o Copom deve manter a taxa básica inalterada.
Para Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, a aposta de alta da Selic no mercado de juros futuros existe, mas é algo que pode mudar até a reunião, embora isso seja pouco provável. Ela acredita, no entanto, que a Selic não deve sofrer mudança. “BC só subiria os juros se as expectativas ficarem totalmente fora do controle e com impacto secundário dos choques na inflação, o que ainda não ocorre”, disse.
“Seria um cavalo de pau”, disse Italo Lombardi, estrategista para América Latina do Credit Agricole, sobre um possível aumento na Selic. Um gatilho para um hike na taxa básica de juros só seria explicado por uma dinâmica inflacionária acelerada mais cedo que o esperado, disse ele, ressaltando que o BC deverá adotar um tom mais duro no discurso. “Uma linguagem mais incisiva, citando cenário adverso e um nível de incerteza bem maior”, disse.
Sinalização à frente
A autoridade monetária não deve dar sinalização forte para o futuro, deixando o cenário em aberto e condicionado à evolução do dados, disse Isabela Guarino, economista da XP Gestão de Recursos. “Espero uma comunicação igual a que o Ilan tem feito recentemente: cenário externo piorou, mas isso só implica mudanças na política monetária se representar mudança no cenário de inflação.”
Por outro lado, um dólar mais alto, a partir de R$ 4,25 e um repasse cambial para preços acima de 7,5% geraria pressões inflacionárias, podendo exigir alta dos juros, disse Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, a jornalistas em São Paulo. Para ele, o impacto do câmbio na inflação será mais persistente que o da greve dos caminhoneiros e não se descarta a possibilidade de o real ser mais pressionado no curto prazo, tendo em vista o atual diferencial de juros do país com o exterior.
Para Lombardi, do Credit Agricole, o Copom deve mencionar a situação cambial em seu comunicado. “BC colocou uma bazuca no mercado de câmbio, não tem como não comentar isso”, disse ele, acrescentando que, ainda assim, o “BC distingue claramente política monetária de política cambial”.
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