Ecos da crise se amplificam nos títulos de emergentes

Por Christopher Langner.

Quem cobre mercados emergentes já ouviu o mantra: Sim, há muita dívida, mas diferentemente do final da década de 1990, os balanços dos governos vão bem. São as empresas que preocupam e raramente são fonte de risco sistêmico.

Provavelmente esta era a verdade cinco anos atrás. Não é mais, pela ótica das agências especializadas em avaliar crédito. Fitch Ratings, Moody’s Investors Service e S&P Global Ratings tomaram 3,1 vezes mais medidas negativas do que positivas em relação a títulos de governos de países emergentes neste ano. A última vez em que esta razão estava tão elevada foi em 1998, durante a crise financeira da Ásia.

Em termos absolutos, o número de medidas negativas é o maior em registro. Isso em parte reflete o fato de mais entidades governamentais nos países emergentes terem emitido títulos no mercado internacional e, portanto, terem notas de risco (ratings).

Profissionais de crédito costumam dizer que essas notas são um indicador defasado, então talvez o pior tenha ficado para trás. Não parece o caso. Entre as 134 entidades soberanas avaliadas pela Moody’s, 26 por cento estão com perspectiva negativa – a maior proporção desde 2012. Muitas são de mercados emergentes, o que sugere uma onda de rebaixamentos à frente.

A África do Sul teve sua sentença adiada na sexta-feira. A S&P Global Ratings manteve sua avaliação inalterada, em meio a expectativas de que a nota do país seria cortada para grau especulativo (junk). Todavia, a lista de anjos caídos, que foram de grau de investimento a grau especulativo, tem ficado longa nos últimos dois anos.

Mesmo se os rebaixamentos não forem efetivados, os detentores desses títulos vão penar. Ainda em 2015, o Brasil exibia o equivalente à nota BBB- (o menor grau de investimento) das três principais agências. Nos meses que antecederam o rebaixamento para junk, o prêmio médio dos títulos da dívida externa denominados em dólar mais do que dobrou, causando grandes perdas aos investidores internacionais.

Quando um governo dá calote, ocorre um efeito dominó nas empresas estatais e privadas daquele país. Finalmente, S&P, Moody’s e Fitch podem estar dando aos investidores sinais antecipados do que pode acontecer. O recado é claro: as nações em desenvolvimento não vão mais tão bem.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.

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