Efeito do câmbio na inflação amplia desafio ao BC

Notícia exclusiva por Josué Leonel.

A aceleração do IGP-M para 0,95% em setembro, quando os economistas previam 0,80%, é um sinal bastante ruim em uma conjuntura já muito negativa. Nas contas tanto do BC quanto de parte do mercado, a inflação ganharia um alívio a partir do final deste ano. A disparada do dólar para acima de R$ 4,00, novidade desta primavera, ameaça este cenário.
 

9-29-2015 2-09-52 PM

 
O IGP-M junta-se a outro sinal de deterioração do cenário de inflação que veio nesta segunda-feira com a pesquisa Focus, que mostrou expectativa de IPCA para 2016 em 6,39%, perto do teto da meta, de 6,5%, nas projeções dos cinco economistas com estimativas mais precisas. Na pesquisa geral, com cerca de 100 participantes, a expectativa também vem piorando.

Como o dólar só atingiu R$ 4,00 na semana passada e vem sustentando este nível, é possível que o impacto do novo patamar do câmbio sobre as expectativas ainda continue a ser embutido nas projeções de muitos analistas. Novos aumentos nas projeções estão por vir, diz o economista Rodrigo Melo, do Icatu Vanguarda, um dos integrantes da pesquisa top 5 do BC. “Os números da inflação só não são piores devido à queda das commodities.”

O IGP-M é considerado um índice mais efetivo que os IPCs para mostrar o impacto do câmbio na inflação. Isso porque o dado calculado pela FGV é composto em 60% por preços ao produtor, que normalmente refletem o impacto da alta do dólar em primeira mão.

A elevação dos preços ao produtor, dentro do IGP-M divulgado hoje, saltou para 1,30%, ante 0,20% no resultado anterior. O efeito do dólar, ainda que lentamente, tende a chegar ao bolso do consumidor. Por mais que a recessão diminua o repasse do câmbio aos preços, este nunca será zero, sobretudo quando o dólar já acumula alta de mais de 50% só este ano.

A alta do dólar também tem efeitos positivos e o mais óbvio é o de estimular a exportação e ajudar a reduzir o déficit em conta corrente. Este impacto, contudo, ainda é limitado. Os desdobramentos negativos do câmbio, além da inflação, incluem as dívidas das empresas, e parecem ter maior peso no curto prazo.

Esta nova rodada de alta do dólar, com seus impactos se espalhando na economia, encontra o mercado cético quanto à capacidade de reação do BC e do governo. O BC poderia agir no câmbio, com a venda de dólares das reservas, mas a maioria dos analistas considera que isto seria perda de dinheiro, com efeito apenas de curto prazo.

O repasse do dólar para a inflação deveria, na visão dos economistas mais ortodoxos, ser combatido pelo BC com alta adicional dos juros. No entanto, há neste caso uma séria desconfiança de que o BC não o faria por temer resistência política. Vale lembrar que o PT é contra os ”juros altos” mesmo com a Selic no nível atual.

A alternativa, ou complemento, à alta dos juros seria um ajuste fiscal muito mais rigoroso do que o que está sendo tentado pelo governo, com corte das despesas e, de preferência, com pouco ou nenhum aumento de tributos. “Aumentar impostos significa atrapalhar o crescimento da economia no futuro”, diz Rodrigo Melo.

Se o BC não pode aumentar os juros e o governo evita um ajuste fiscal mais forte, qual a saída para reverter o pessimismo atual? Para esta pergunta o mercado ainda não parece ter resposta. E este é um dos motivos da pressão persistente que vem atingindo o mercado brasileiro ultimamente.

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