Por Josué Leonel.
Se ontem o fator Trump teve impacto limitado, hoje o estrago está sendo mais claro, sobretudo no mercado de câmbio. Os planos do novo presidente americano de aumentar gastos em infraestrutura podem representar mais crescimento, mas também mais inflação e juros mais altos, o que significaria fim da linha para o dinheiro barato que vinha ajudando a fortalecer moedas de países emergentes como o real brasileiro, que despenca mais de 4% hoje após cair 1,8% ontem.
No mercado de títulos, a alta dos juros americanos já começou a ocorrer. O rendimento dos Treasuries de 10 anos, título do Tesouro dos EUA, saltou do patamar de 1,8% na segunda-feira, quando o mercado apostava na vitória de Hillary Clinton, para mais de 2%. “As taxas estão subindo devido ao aumento das expectativas inflacionárias após a vitória de Trump”, diz Georgette Boele, estrategista do ABN Amro Bank.
O primeiro efeito da vitória é reduzir o apetite dos investidores por ativos de maior risco, segundo Enrique Diaz-Alvarez, da Ebury Partners, em Nova York, analista com as melhores estimativas sobre o real no último trimestre em pesquisa da Bloomberg. Entre as operações que se tornam menos interessantes estão as de carry trade, em que o investidor externo entra no país para ganhar com o diferencial entre as taxas de juros locais elevadas e os juros internacionais menores.
Há um segundo efeito, contudo, que é positivo para os mercados emergentes, segundo Diaz-Alvarez. Ele observa que os estímulos prometidos por Trump tendem a impulsionar os preços das commodities, dado que os fornecedores destes produtos reduziram suas capacidades. Ainda que o efeito das políticas de Trump seja mais negativo do que positivo para os emergentes, o analista prevê dólar em R$ 3,40 em 2017, apenas levemente acima do nível atual.
Embora o tema principal do mercado hoje seja o impacto dos gastos do governo Trump sobre a inflação e os juros, o discurso protecionista do então candidato também continua como ponto de incerteza. O peso mexicano é a principal vítima desta perspectiva mais negativa para o comércio global e já caiu mais de 10% nos dois últimos dias.
“O mercado ainda está assimilando o efeito Trump”, diz Italo Abucater, chefe da mesa de câmbio da Icap Brasil. Para Abucater, o BC mostrou que está preocupado com as incertezas ao anunciar ontem a suspensão dos swaps reversos. Se o dólar continuar subindo com força, o BC pode atuar para limitar a volatilidade, diz o operador.
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