Efeito Trump no México destoa do bom momento da América Latina

Por Ben Bartenstein, Aline Oyamada e Isabella Cota.

O México dominou as manchetes sobre a América Latina em 2016 graças às vertigens que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, provocou no mercado. Mas a região está longe de estar perdendo dinheiro.

Na verdade, cinco dos 10 índices de ações de melhor desempenho do ano podem ser encontrados aqui, liderados pela alta de 61 por cento do Ibovespa, no Brasil, até quarta-feira. Quatro das 10 moedas de países em desenvolvimento de melhor performance são da região. No mercado de títulos, a Venezuela concedeu aos investidores alguns dos maiores ganhos do mundo com retorno de 54 por cento sobre sua dívida.

Apesar do clima sombrio no México e da perspectiva de aumento dos juros nos EUA, analistas da América Latina como Jan Dehn, da Ashmore Group, acreditam que os investimentos na região compensarão bastante em 2017. Segundo ele, o Brasil parece propenso a liderar o caminho novamente com a recuperação de sua economia — a maior da região — e com a redução do juro pelo Banco Central, que atrairiam investidores a seus mercados financeiros. A Argentina e o Peru, impulsionados por presidentes abertos aos negócios e pela recuperação dos preços das commodities, também são vistos como destinos de negócios potencialmente lucrativos.

“A América Latina se recuperará mais que outras regiões em termos de PIB e fará mais reformas”, disse Dehn, chefe de pesquisa da Ashmore Group em Londres, cuja principal escolha é o Brasil.

A iniciativa do presidente Michel Temer, de pressionar pela aprovação de medidas de limite de gastos e de reforma da previdência, é outra razão pela qual os investidores continuam otimistas em relação ao Brasil. O real deu um salto de 19 por cento neste ano, o segundo maior avanço do mundo, ajudando a reforçar os retornos dos títulos de dívida locais. A moeda se valorizará mais 10 por cento até o segundo trimestre de 2017 antes enfraquecer novamente para R$ 3,40 por dólar no fim do ano que vem, segundo Gustavo Rangel, economista-chefe da ING Financial Markets para a América Latina e melhor analista de câmbio da região no último trimestre segundo os rankings da Bloomberg.

Enquanto as perspectivas para o Brasil continuam melhorando, o cenário para o México é mais confuso. As promessas de Trump de anular o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês) e construir um muro ao longo da fronteira sul do país irritou os investidores em ativos da segunda maior economia da região, fazendo o peso perder 16 por cento de seu valor no ano. O México envia quase 80 por cento de suas exportações para os EUA.

“O ano que vem nos apresenta um cenário muito incerto”, disse Rogelio Ramos, trader de ações da Interacciones Casa de Bolsa, na Cidade do México. “É a questão do comércio exterior que é preocupante. Os impostos e as tarifas que ele quer impor ao México, a renegociação do Nafta, a política migratória, tudo isso deve ser levado a sério.”

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