Por Vinícius Andrade e Roger Oey.
Os investidores estão apostando cada vez mais que o mercado acionário brasileiro deve se recuperar como o do México depois da eleição presidencial de outubro.
Mesmo sem nenhum favorito claro na disputa eleitoral, a situação fiscal é terrível o suficiente para que qualquer candidato tenha que avançar com as reformas, resolvendo a incerteza que atormenta o país há meses, disseram investidores e analistas. No México, os investidores inicialmente estremeceram ao pensar na eleição do esquerdista Andres Manuel Lopez Obrador – antes de o mercado subir 8,8% desde maio, após sua liderança na corrida se tornar evidente.
“O que vimos acontecer no México pode acontecer no Brasil”, disse a estrategista de ações para Brasil e América Latina do JPMorgan Emy Shayo, em entrevista por telefone. O mercado mexicano caiu muito antes das eleições – mais do que o brasileiro – e um tombo similar precisaria ocorrer para levar a um rali semelhante, de acordo com Shayo. “O mercado de ações brasileiro precisaria piorar dos níveis atuais”, ela disse.
James Gulbrandsen, da NHC Capital, concorda, dizendo que o mercado deve piorar antes das eleições e subir se o candidato que lidera as pesquisas (excluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) Jair Bolsonaro for eleito. Ele tem 21 por cento nas pesquisas de opinião. Embora a capacidade de Bolsonaro de construir uma coalizão e governar esteja em questão, o Ibovespa pode passar dos 100.000 pontos nos próximos anos, um aumento de cerca de 24.000 pontos em relação a hoje, disse Gulbrandsen.
E com a queda de 15% do Ibovespa no segundo trimestre, analistas argumentam que alguns papéis estão baratos. O lucro por ação do índice também deve aumentar 94% nos próximos 12 meses, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Outros candidatos que assustam o mercado incluem Ciro Gomes, que ameaça o acordo de compra da Embraer pela Boeing e desfazer as reformas já anunciadas. Enquanto isso, Geraldo Alckmin, considerado por analistas políticos como um nome reformista, conta com cerca de 8% de suporte nas pesquisas, reforçando sua falta de apoio entre o eleitorado.
As perspectivas para o Brasil devem melhorar após as eleições porque o próximo governo será forçado a lidar com o déficit fiscal, não importa quem seja eleito, disse Marco Antonio Barros, presidente da Brasilprev Seguros e Previdência.
“Você não vai conseguir deixar de discutir essa armadilha em que o país se colocou”, disse Barros, em uma entrevista em 6 de julho no escritório da Bloomberg em São Paulo.
A eleição no Brasil é a última do atual ciclo eleitoral latino-americano, e a comparação com o México tem as suas falhas.
“A incerteza em torno das eleições brasileiras parece mais alta do que no México”, diz Alan Alanis, estrategista do UBS, em uma entrevista. Lula não só complica a história: a desaceleração da economia e a reforma da Previdência também não foram questões em outros lugares. “Para os investidores do Brasil, a situação parece mais desafiadora”.
A crescente discussão sobre a fragilidade fiscal do país é positiva, e não é a única coisa que deve impulsionar o mercado, de acordo com o estrategista de ações do Itaú BBA para o Brasil, Luiz Cherman. O banco está prevendo um aumento de 10% para as ações brasileiras devido à recuperação dos lucros das empresas.
Entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.