Eletrobras abalada por escândalo é oportunidade de compra

Por Vanessa Dezem e Emma Orr.

Os investidores que estão fugindo dos bonds da maior empresa de eletricidade do Brasil estão cometendo um erro, segundo a Andbanc Brokerage LLC e a Torino Capital.

Apesar de ter sido envolvida em um esquema de corrupção, a estatal Centrais Elétricas Brasileiras SA ainda é responsável por mais de um terço da geração de energia da maior economia da América Latina. Por isso, o governo deve garantir que a empresa honre os pagamentos de suas dívidas, disse o CEO da Torino, Jorge Piedrahita, por telefone, de Nova York.

A Eletrobras, como a empresa é conhecida, viu os yields de seus bonds de referência subirem para recordes 12,3 por cento na semana passada devido à preocupação de que a piora do mal-estar econômico e a crescente investigação de corrupção estrangularão a receita. Após registrarem a maior queda do mundo entre os bonds de empresas de energia classificadas como junk neste mês, os títulos da Eletrobras agora são negociados nos chamados níveis distressed (de liquidação duvidosa).

“No fim das contas, o risco é soberano”, disse Carlos Gribel, chefe de renda fixa da Andbanc Brokerage LLC em Miami, por telefone. “Não faz sentido ver bonds da Eletrobras pagando um yield de 12 por cento. Não acredito que ocorra um calote”.

Em julho, a empresa com sede no Rio de Janeiro foi arrastada para o maior escândalo de corrupção da história do Brasil, a Operação Lava Jato, quando a polícia prendeu o ex-chefe de sua unidade nuclear, a Eletronuclear. O delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula disse que Dalton Avancini, CEO da construtora Camargo Corrêa SA, testemunhou que sua empresa e outras ganharam contratos pagando propinas para uma usina de energia nuclear conhecida como Angra III.

A assessoria de imprensa da Eletrobras disse que a queda do bond está ligada à desvalorização do real e não se deve a nenhuma conexão com a investigação de corrupção. A Eletronuclear não é parte relevante do fluxo de caixa da Eletrobras, ainda segundo a assessoria.

Mais de 20 empresas foram implicadas na investigação sobre um esquema de uma década por meio do qual os executivos da produtora de petróleo estatal, a Petrobras, distribuíram contratos em troca de subornos.

Para Juan Carlos Rodado, do Natixis SA, a piora da crise econômica e política do Brasil implica que os bonds da Eletrobras sejam arriscados demais no curto prazo. Os pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff vêm ganhando força em um momento em que a economia se dirige para sua recessão mais longa desde a Grande Depressão.

Longo prazo

“Se você planeja manter esse investimento por um mês, três meses, seis meses, é uma ideia péssima , porque todos continuarão punindo o Brasil”, disse Rodado, diretor de pesquisa para a América Latina do banco francês em Nova York. “Se você acha que o Brasil não dará calote, é um grande investimento, caso você seja um investidor de longo prazo”.

O total de US$ 1,75 bilhão em bonds da Eletrobras para 2021 perdeu 11 por cento até esta altura do mês, elevando o premium de seu yield em relação aos títulos do Tesouro dos EUA para mais de 10 pontos porcentuais.

“Estamos recomendando que os detentores de bonds que quiserem assumir mais riscos comecem a comprar posições aos poucos”, disse Piedrahita, da Torino. “É muito difícil ver uma empresa como essa dar calote sobre seus bonds, por isso, se você tiver estômago, estamos recomendando”.

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