Em ano de más notícias, frigoríficos brasileiros enfim respiram

Por Gerson Freitas Jr. e Tatiana Freitas.

Suspeitas de violações sanitárias, embargos à exportação e um escândalo de corrupção. As manchetes deste ano dificilmente poderiam ser piores para a indústria brasileira de carnes.

Apesar disso, os frigoríficos desfrutam agora das melhores condições de mercado em vários anos para a produção de carne bovina. Isso porque os preços que empresas como JBS, Marfrig e Minerva pagam pelo gado tiveram a maior queda em duas décadas neste ano, enquanto os preços da carne no atacado permaneceram praticamente estáveis. Com isso, o diferencial chegou a 38 por cento, o maior desde pelo menos 2008, segundo dados da Scot Consultoria.

“Nunca vimos uma situação como essa”, disse Mariane Crespolini, pesquisadora do Cepea, a unidade de pesquisa agrícola da Universidade de São Paulo, em entrevista por telefone.

Segundo o Cepea, a demanda doméstica pela carne tem mostrado alguns sinais de recuperação depois de uma grave recessão e da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que, em março, tornou pública uma investigação sobre um amplo esquema de suborno a fiscais agropecuários e venda de produtos impróprios para o consumo.

No lado da oferta, existe uma abundância de animais prontos para o abate e que os frigoríficos simplesmente não estão absorvendo. Isso se deve, em parte, às preocupações com a qualidade da carne brasileira no exterior — o preço do gado caiu 15 por cento desde março, depois que vários países suspenderam temporariamente as importações do produto brasileiro. A redução do volume de abates da JBS, maior compradora de gado do país, após a delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista também pressionaram os preços da arroba. A consultoria Agroconsult reduziu sua projeção para o volume de abate do Brasil em 1 milhão de cabeças de gado, para 39,6 milhões, após o escândalo.

Além disso, os pecuaristas estão oferecendo mais vacas para o abate devido a uma queda no preço dos bezerros, assim como animais que haviam sido retidos no ano passado devido à forte alta nos preços da ração e finalmente atingiram o peso de abate.

“Os indicadores não eram tão positivos para os frigoríficos desde o fim dos anos 1990”, disse Maurício Nogueira, sócio Agroconsult, citando o diferencial entre os preços da carne bovina e do gado.

Marfrig, Minerva e JBS deverão apresentar, nos balanços do segundo trimestre, lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização mais elevados do que no mesmo período do ano passado, segundo a média das estimativas dos analistas compiladas pela Bloomberg. Os impactos da Carne Fraca sobre as exportações devem pesar no resultado das empresas, segundo relatório do Banco Santander, mas as margens maiores da carne bovina deverão compensar esses efeitos em parte, afirmou o Itaú BBA em relatório de 20 de julho.

Minerva e Marfrig preferiram não comentar sobre o assunto. A JBS não respondeu a um pedido de comentário.

As margens atraentes podem estimular matadouros locais que haviam suspendido a produção nos últimos anos a retomarem as operações, disse Nogueira, da Agroconsult. A Marfrig, segunda maior produtora de carne bovina do Brasil, decidiu reabrir duas plantas na região Centro-Oeste do Brasil e aumentar o uso de outras quatro, resultando em um aumento de 25 por cento em sua capacidade de abate no Brasil, afirmou a companhia em 3 de julho, citando a oferta maior de gado e a melhora das condições econômicas. A Minerva também informou no mês passado que está retomando as operações em uma planta do Mato Grosso.

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