Em depressão, Brasil precisa de um choque positivo de produtividade

Por Michael McDonough.

Com o Brasil entrando em sua pior recessão nos últimos 25 anos, os membros do governo iniciam uma batalha hercúlea para restaurar a confiança, corrigir erros do passado e recuperar o crescimento. A maior economia da América Latina faria bem em focar na produtividade, área em que está bem defasada.

O boom econômico do Brasil, nos últimos 15 anos, foi fortemente ancorado nas exportações de metais, energia e agricultura para uma China emergente. Mesmo durante a crise global, a China forneceu um salva-vidas para a economia do Brasil, com sua demanda insaciável de matéria-prima bruta, estocada por meio de estímulos fiscais substanciais.

Uma porção inadequada dessa herança econômica chegou aos investimentos em infraestrutura, educação e outros canais que poderiam ajudar a aumentar a produtividade do Brasil.

Investimentos em infraestrutura na China – somados a uma mudança em direção à manufatura e adoção de novas tecnologias – levaram a um aumento de 108 por cento na produtividade total dos fatores entre 1990 e 2011. Em contrapartida, no Brasil – que foca em mineração e agricultura –, a produtividade aumentou mísero 1 por cento no mesmo período.

Ser mais produtivo tem seus benefícios. Em 1990, o PIB do Brasil era 70 bilhões de dólares maior que o da China. Em 2014, a economia chinesa era 8 trilhões de dólares maior.

Se fizer progressos significativos, o Brasil pode reconquistar a confiança dos investidores e trazer estabilidade por meio dos fluxos de capital. O programa de infraestrutura de 198,4 bilhões de reais (64 bilhões de dólares) anunciado em Brasília, na última semana, para estradas, rodovias, portos e aeroportos, é um passo na direção certa.

No entanto, há diversos fatores trabalhando contra o Brasil. O crescimento econômico da China deve continuar desacelerando, reduzindo a demanda por exportações do Brasil. E a aceleração nos Estados Unidos e a recuperação na Europa não vão ajudar o Brasil a evitar uma recessão severa. Embora a nova equipe econômica do Brasil esteja promovendo ajustes fiscais e estabelecendo metas ambiciosas para reverter a situação, o fraco crescimento provavelmente vai inibir o sucesso em curto prazo.

No pior cenário, a deterioração nas condições econômicas e o aumento do desemprego podem motivar mais inquietações sociais. Isso colocaria em risco a agenda de reformas e desestabilizaria, ainda mais, a economia do Brasil.
 

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