Por Sally Bakewell.
As empresas estão intensificando os alertas aos investidores de que uma possível saída do Reino Unido da União Europeia poderá corroer as receitas e reduzir o valor de seus títulos.
O HSBC Holdings apontou o chamado ‘Brexit’ como possível risco para os compradores de seus bonds. A Universidade de Cardiff, no País de Gales, e a empresa aérea de baixo custo EasyJet também disseram que a incerteza sobre a adesão ao bloco poderá gerar distúrbios nas operações. O risco é especialmente acentuado entre os tomadores de empréstimos do Reino Unido, embora as empresas europeias também estejam em alerta.
Em prospectos e outros documentos de oferta de bonds, emissores estão citando possíveis riscos oriundos de mudanças jurídicas posteriores a uma saída. Investidores estão exigindo prêmios maiores para manter em carteira bonds de alta qualidade denominados em libras esterlinas na comparação com títulos em euros. Os eleitores decidirão o futuro do Reino Unido na UE em um plebiscito no dia 23 de junho.
“Estamos entrando em um período prolongado de incerteza e as incertezas são ruins para o crédito”, disse David Newman, responsável por títulos high yield da Rogge Global Partners em Londres, que gerencia mais de US$ 30 bilhões. “À medida que o risco do Brexit aumentar, aqueles que não precisam comprar libras provavelmente reduzirão ou sairão. Isso pode tornar o refinanciamento mais difícil para algumas empresas”.
Em documentos recentes dos bonds, o HSBC listou o Brexit juntamente com riscos como resgate financeiro de bancos e a investigação sobre manipulação de taxas. O plebiscito poderá provocar mudanças em leis britânicas que afetam os direitos dos detentores de bonds, gerar custos adicionais e até mesmo desencadear resgates de dívidas, alertou o banco.
A venda, pela Universidade de Cardiff, de 300 milhões de libras (US$ 422 milhões) em bonds com cupom de 3 por cento e vencimento em 2055 veio com uma advertência de que uma decisão pela saída na votação poderia reduzir o número de matrículas de estudantes de países da UE, porque a expectativa é de que eles pagarão anuidades maiores em um país não alinhado ao bloco. A Universidade de Leeds, na Inglaterra, alertou em documentos para a oferta de 250 milhões de libras em títulos de dívida, no mês passado, que uma decisão pela saída da UE poderá prejudicar o financiamento à pesquisa e o recrutamento.
A EasyJet incluiu a incerteza gerada pelo Brexit como risco em documentos para sua primeira emissão de bonds em euros, no mês passado, afirmando que o resultado poderia afetar negativamente seu negócio. Um porta-voz disse que a empresa tinha planos de mitigar o risco. O National Australia Bank também sinalizou o risco em um prospecto de venda de dívidas.
“No momento, é difícil se prevenir juridicamente para o que poderia acontecer em um cenário de Brexit”, disse Mairead Duncan-Jones, advogada da Linklaters. “Há muitas incógnitas”.
Tesoureiros preocupados
O Brexit também preocupa as empresas europeias. Os tesoureiros estudam quais precauções podem tomar para uma saída do Reino Unido, segundo palestrantes e participantes da conferência da Associação Europeia de Tesoureiros Corporativos (ACT, na sigla em inglês), em Dusseldorf, Alemanha, na semana passada.
Volatilidade cambial e mudanças nas alíquotas tributárias e de importação estão no topo da lista de preocupações dos tesoureiros europeus. Alguns deles consideram testes de estresse para medir o impacto de uma separação sobre suas empresas e investigam como bancos e fornecedores lidariam com isso, disse Michelle Price, diretora associada técnica e de políticas da ACT, com sede em Londres.
O material do Allied Irish Banks para promover uma colocação de 500 milhões de euros (US$ 554 milhões) em títulos de Nível 1 ressaltou o Brexit como um risco de contágio que poderia afetar o grupo negativamente, segundo o documento de 1o de dezembro.
Pesquisas sinalizam que o referendo será apertado. Uma consulta realizada em 14 de março pelo jornal Telegraph mostra 49 por cento dos entrevistados a favor do Brexit e 47 por cento contra, enquanto uma pesquisa da YouGov mostrou, em 4 de março, que 40 por cento desejam permanecer, 37 por cento querem sair e 18 por cento estão indecisos.
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