Empresários brasileiros quebram silêncio e defendem fim do drama

Por Fabiola Moura.

Com a aproximação da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, os principais executivos do país começam a quebrar o silêncio.

A maioria deles vê pouca vantagem em se posicionar na batalha política e o desfecho do processo de impeachment é imprevisível. O Brasil corporativo está reticente, mesmo com a disparada da bolsa neste ano com a expectativa de um governo mais favorável ao mercado.

Com os parlamentares se preparando para votar no domingo, os executivos estão falando mais abertamente sobre como meses de drama político afetaram seus negócios. O recado deles? Está na hora de uma resolução.

“A decisão deles é importante porque nos permite voltar a tomar decisões”, disse Edmar Prado Lopes Neto, diretor financeiro e de relações com investidores da Gol. “Um cenário de extrema volatilidade é muito prejudicial à nossa tomada de decisões.”

A Gol é uma das empresas afetadas pelo colapso da economia brasileira. A previsão é que a capacidade, ou número de assentos da empresa, diminua até 18 por cento neste ano. A companhia contratou a PJT Partners no mês passado para ajudá-la com sua dívida. Assim como outros executivos entrevistados para esta reportagem, Lopes não disse se é contra ou a favor do impeachment.

A tomada de decisões tem sido desafiadora em parte por causa da dificuldade em prever a taxa de câmbio neste ambiente, segundo Lopes. Definir quem vai liderar o governo pelo menos será um passo na direção certa, ainda que a recuperação da economia seja um processo demorado, ele disse.

“Hoje eu li que a inadimplência até 2 salários mínimos bateu todos os recordes”, ele disse em entrevista. “Vai mudar pra esse pessoal? Não vai mudar nada. O desemprego continua aumentando e a renda caindo”.

A economia vai encolher 3,8 por cento neste ano, de acordo com a última pesquisa Focus do Banco Central com economistas, após uma queda de 3,8 por cento em 2015. A confiança do consumidor permanece próxima dos menores níveis em registro. Essas tendências, juntamente com protestos populares que forçaram shopping centers a fechar as portas, fizeram de março um mês “muito ruim” para as operadoras desses centros comerciais, disse Cristina Betts, diretora financeira da Iguatemi Empresa de Shopping Centers, em entrevista por telefone.

Remédio ‘amargo’

A votação do impeachment dificilmente causará melhora imediata, mas dará mais certeza, segundo ela. “Pelo menos nos dá uma perspectiva de para onde a gente vai”, disse Cristina. “Independente do que aconteça, a economia precisa de um tratamento longo e o remédio é amargo.”

A solução da crise política aumentaria a estabilidade do real, a mais volátil das principais moedas acompanhadas pela Bloomberg, afirmou Sérgio Frota, vice-presidente executivo do World Trade Center Business Club, em São Paulo. Mesmo que a decisão sobre o impeachment não restaure imediatamente o crescimento econômico, a mesma pode dar mais certezas aos investidores estrangeiros, disse Frota, que atua incentivando negócios entre diferentes países.

“Eles sabem que o Brasil é um país sério, com instituições sérias e que é um bom momento para investir”, disse ele em entrevista. “O desafio é a questão do câmbio que eles enfrentam também. Está oscilando muito mediante fatos políticos. Isso não é bom. A gente conhece várias empresas que erraram no budget porque erraram no câmbio. Isso pode te ajudar ou te comprometer”.

Para ter acesso a notícias em tempo real entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.
 

Agende uma demo.