Por Francisco Marcelino.
A surpresa positiva com os lucros das empresas listadas na Bovespa não deixou os gestores de recursos mais otimistas em relação aos próximos trimestres.
No terceiro trimestre deste ano, 28 das 55 empresas do Índice Bovespa apresentaram resultados acima do esperado, segundo dados compilados pela Bloomberg. É a primeira vez em um ano que a maioria dos integrantes do indicador supera expectativas. Ainda assim, a recuperação foi motivada principalmente pelo “esforço brutal” para enfrentar a crise do que por qualquer melhora da economia, na visão de Jorge Simino, diretor de investimentos da Fundação Cesp, o quarto maior fundo de pensão do País.
“Decolagem mesmo é o segundo semestre do ano que vem”, disse Simino, que administra aproximadamente R$ 27 bilhões em ativos, incluindo R$ 2,93 bilhões em ações. “O executivo ralou, enxugou custo, enxugou pessoal, cortou hora extra, tirou pessoa do turno, revisou contrato. Mas ainda assim o ambiente fora do portão da empresa é muito difícil.”
As companhias diminuíram custos operacionais, incluindo aluguel de escritórios e viagens de negócios, para lidar com a queda da demanda. Aluguel de escritórios desabou 11 por cento em outubro em relação a um ano antes, de acordo com dados compilados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e pelo website Zap Imóveis.
As empresas também estão demitindo pessoal. Cerca de 720.900 vagas foram eliminadas pelas grandes empresas este ano, enquanto que as menores acabaram com 46.500 empregos, segundo cálculos do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A taxa nacional de desemprego bateu recorde, chegando a 11,8 por cento no terceiro trimestre, vindo de 8,9 por cento um ano antes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com um relatório da Funcesp, a margem EBITDA combinada de 97 empresas abertas subiu para 10,6 por cento no terceiro trimestre, comparado a 10 por cento um ano antes.
Embora o número menor de funcionários ajude o resultado das empresas, só uma recuperação “consistente” da economia levará a uma melhora contínua nos lucros, disse Jorge Augusto Saab, gestor de renda variável da Rio Bravo Investimentos, que tem aproximadamente R$ 12 bilhões em ativos sob gestão. “Melhorar resultado só pelo lado do custo tem limite”, ele disse em entrevista em São Paulo.
O setor financeiro provavelmente terá bons resultados já no início de 2017, à medida que a inadimplência deixa de subir e a concessão de empréstimos é retomada, disse Saab. Os bancos lideraram os esforços para ampliar as margens no terceiro trimestre. Nove das 15 empresas financeiras do Ibovespa superaram as estimativas do mercado cobrando juros e taxas de serviços maiores dos clientes para compensar a queda no crédito.
Já as varejistas não começarão o ano com o pé direito, porque o aumento do desemprego ainda prejudica os consumidores, disse Saab. A Rio Bravo projeta crescimento da economia na casa de 1 por cento no ano que vem, dentro da previsão de analistas sondados pela Bloomberg.
“As empresas estão mais preparadas para capturar uma melhora do cenário, mas esse cenário é de uma melhora muito lenta”, disse Simino.
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