Empresas preparam plano B por risco de voto radical na França

Por Fabio Benedetti-Valentini e Alexandre Boksenbaum-Granier.

Empresas francesas estão discretamente se preparando para o pior em meio à crescente possibilidade de que Marine Le Pen ou Jean-Luc Mélenchon cheguem à presidência com plataformas que defendem o aumento das barreiras comerciais e uma potencial saída da zona do euro.

Um grupo industrial de Paris avalia transferir sua sede para Londres caso Mélenchon vença as eleições, disse o presidente da empresa, que pediu para não ser identificado. O presidente de outra companhia, uma das maiores do CAC-40, principal índice do mercado acionário francês, afirmou que gerentes estão preparando um plano B caso Le Pen seja a vencedora, embora não tenha dado detalhes. A Aramis Auto, uma concessionária de automóveis com sede em Paris, tomou medidas para poder enfrentar uma retração por parte dos bancos.

“Garantimos linhas de crédito com nossos bancos há algumas semanas para continuar financiando o negócio”, disse Guillaume Paoli, diretor-presidente da Aramis, que vende 32.000 carros por ano na França com uma equipe de 30 compradores poliglotas em toda a União Europeia. “É difícil fazer uma lista das medidas a serem tomadas” no caso de uma vitória de Le Pen ou de Mélenchon, disse.

As pesquisas de intenção de voto indicam uma disputa mais acirrada no primeiro turno das eleições de domingo, sinalizando que um segundo turno em 7 de maio entre Le Pen, do partido de extrema-direita Frente Nacional, e Mélenchon, apoiado pelo Partido Comunista, agora é um cenário mais plausível do que em qualquer outro momento da corrida eleitoral. A vitória de qualquer um dos dois poderia derrubar o euro e os títulos do governo francês, afetando bancos e seguradoras, que são grandes credores de dívida soberana. Embora grandes empresas francesas com vendas internacionais possam se beneficiar inicialmente de uma moeda mais fraca, a perspectiva de um protecionismo crescente ou de maiores impostos poderia pesar sobre os negócios e preços de ações.

Apesar de as empresas geralmente não comentarem sobre preparativos para não assustar clientes e membros do governo, muitas estão buscando formas de melhorar suas posições de caixa com a emissão de mais dívida com prazos mais longos, ou de reforçar estratégias de hedge contra oscilações do câmbio, segundo uma pessoa com conhecimento do assunto.

“A filosofia econômica dos dois candidatos é muito semelhante; são antinegócios”, disse Jean-François Buet, presidente do conselho da FNAIM, entidade que representa o setor de corretores de imóveis residenciais. “Nem sequer ousamos pensar em um duelo entre Marine Le Pen e Jean-Luc Mélenchon em um segundo turno, porque isso seria uma catástrofe para a economia.”

Eleitores indecisos

As pesquisas de opinião mostram que nenhum dos candidatos mais pró-empresas, como Emmanuel Macron ou François Fillon, conseguiria vencer Le Pen em um segundo turno, mas também destacam que cerca de 40 por cento dos eleitores ainda estão indecisos.

Le Pen propõe retirar a França da zona do euro e levantar barreiras comerciais. Mélenchon quer renegociar tratados europeus para dar maior controle econômico à França e impor condições para permanecer na zona do euro. Mélenchon também pretende dificultar as demissões, limitar os salários de executivos e retirar a França de acordos de comércio. Suas propostas incluem ainda elevar o salário mínimo e permitir que o governo retome o controle de empresas que foram privatizadas.

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