Entrevista com CEO: Enel

Por Ehren Goossens e Katia Porzecanski.

Enel aguarda decisão chilena, marcada para o próximo mês, sobre reestruturação corporativa

Enel, a produtora de eletricidade sediada na Itália, espera uma decisão dos órgãos reguladores do Chile, marcada para o próximo mês, que pode simplificar sua complexa estrutura corporativa na América Latina. Enquanto isso, a empresa segue procurando maneiras de continuar a se expandir na região.

O governo chileno deve decidir se a reestruturação corporativa — uma tentativa de simplificar mais de 80 entidades legais na região — pode ser classificada como operação vinculada, conforme disse Francesco Starace, CEO da empresa, em entrevista concedida no dia 25 de junho na sede da Bloomberg em Nova York.

Dependendo do tipo da decisão, a operação pode seguir por um caminho ou por outro, mas qualquer uma das opções são gerenciáveis. “Apenas precisamos saber”, disse o executivo. Entre 12 e 18 meses “teremos alguma ordem na bagunça” em relação às suas operações na região, que incluem quase 15 milhões de clientes e ativos no Chile, Brasil, Argentina, Colômbia e Peru. Starace afirma que vê a América Latina crescendo mais que qualquer outra região em que a empresa opera.

A agência Fitch disse que precisa de mais informações sobre a reestruturação corporativa, que separaria as operações no Chile e internacionais da sua subsidiária Enersis. “As ramificações da reestruturação corporativa podem ser neutras ou negativas para a Enersis”, disse a agência no dia 19 de junho.

A Enel tem cerca de 40 por cento das suas receitas oriundas da Itália, enquanto o restante vem das operações internacionais. Em cinco anos, “será possível ver o faturamento da Itália caindo para 35, enquanto o resto do mundo avança para 65”, disse Starace. “A própria América Latina vai crescer mais do que se comparada com o restante do mundo.”

A empresa tem planos de reservar 40 por cento do seu total de investimentos entre 2015 e 2019 para a América Latina. Isso deve auxiliar a aumentar a contribuição da região para o faturamento antes de juros, impostos, depreciação e amortização para 31 por cento, ante 20 por cento em 2014.

Starace disse que planeja evitar se tornar a maior empresa de energia em qualquer um dos países em que opera, por acreditar que essas empresas podem se tornar alvo de regulamentação. Ele fez uma analogia com o ciclismo, ressaltando que o líder do pelotão precisa trabalhar mais que aqueles que estão um pouco atrás.

Starace quer manter a empresa em “uma posição de equilíbrio” entre geração e distribuição, usando uma como um hedge regulatório contra a outra. Starace minimizou a importância das doações a políticos feitas pela unidade Endesa Chile, dizendo que as doações foram generalizadas e que é uma prática legal entre empresas chilenas.

Ele disse que o problema gira em torno da discussão sobre se a empresa deveria pagar impostos nas doações, em vez de contabilizá-las como despesas. “Isso não se trata, realmente, de um escândalo político”, disse. “É uma notícia chata de impostos que está sendo muito inflada.” Os valores envolvidos “são bem pequenos”, estimando-os em 300 mil dólares. “Iremos pagar qualquer imposto que for necessário.”

“Todas as medidas equivocadas”
O CEO da Enel também disse que o ambiente para negócios na Argentina simplesmente não pode piorar. “É um jogo de espera, estamos esperando pelas mudanças que um novo sistema político vai trazer após as eleições”, disse Starace. “Vai levar muito tempo para mudar, mas não acredito que pode ficar pior do que já está.” “Todas as medidas equivocadas” dos órgãos regulatórios da Argentina para empresas de energia, incluindo os limites de preço estabelecidos há décadas e a resultante dependência do auxílio estatal “representam um pouco de todas as medidas equivocadas tomadas”, disse Starace.
 

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Não é algo provável imaginar que a Argentina seria capaz de conseguir “uma guinada completa de um dos ambientes com pior gestão possível em termos de energia para se tornar, de uma hora para a outra, um sistema fantástico”, disse. “Eles podem liberar alguns dos limites, aos poucos, para aumentar a confiança”, acrescentou. “Há uma quebra de confiança grande na Argentina, isso é inegável, tão grande que eles têm uma enorme tarefa pela frente.”

“Todos os nossos ativos na Argentina possuem valor zero, nós fizemos a depreciação completa deles”, disse. “Então, uma pequena ajuda, qualquer uma, é algo positivo.”

Separadamente, Starace disse que a Enel não está interessada em vender a Endesa. Uma proposta de empresas de private equity “talvez faça sentido no ponto de vista deles, mas é um ativo estratégico para nós”, disse Starace.

Ao se referir ao Brasil, o CEO disse que ele aguarda um cenário melhor. “Acredito que já vimos o pior no Brasil”, disse Starace. “É um país que, se você vê uma explosão na corrupção e nos escândalos, a economia acaba afetada. Vejo isso como algo positivo, não negativo, já que significa que as pessoas estão realmente se esforçando para que o país seja gerenciado de uma maneira correta.”

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