Envelhecer sem enriquecer: um drama latino-americano

Por David Biller.

A América Latina, uma região assolada por crises recentes que, no entanto, possui uma economia de US$ 4,6 trilhões, precisa de mudanças políticas urgentes para que as taxas de crescimento voltem aos patamares registrados durante os anos de preços altos das commodities. O tempo está acabando, porque sua vantagem demográfica — quando os trabalhadores ativos superarem em número os aposentados — atingirá o pico em 2020, de acordo com um relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Isso pressiona os governos em duas frentes, porque são forçados a cobrir os custos crescentes de seguridade social e saúde para os idosos enquanto a população em idade ativa se torna proporcionalmente menor. Mesmo que novas políticas fossem adotadas hoje, ainda levaria anos para construir a infraestrutura necessária e, pelo menos, uma geração para educar a força de trabalho.

Foi mais fácil ignorar a urgência dessa mudança de política durante a bonança das commodities. Nesses anos, as exportações de soja, ferro e petróleo, em grande parte para alimentar o apetite voraz de uma China em expansão, levaram a América Latina a registrar mais que o dobro da média de crescimento das economias desenvolvidas. Um dos problemas é que, desde a crise financeira global, a região depende do consumo privado e dos gastos do governo para crescer, afirmou a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, das Nações Unidas, em um relatório de agosto. O investimento, que é necessário para sustentar o crescimento a longo prazo, tem sido sempre menor que o de outros países do mercado emergente.

A dificuldade para atrair investimento explica em grande parte por que o Brasil tem sofrido neste ano para se livrar de sua pior recessão e por que a recuperação da Argentina depois da sua contração será menor do que o governo originalmente esperava.

“Nós não investimos o suficiente, não poupamos o suficiente, não comercializamos o suficiente, não educamos o suficiente. O que você esperava? Não vamos crescer o suficiente”, disse Alberto Ramos, economista-chefe do Goldman Sachs para a América Latina. “Não é um enigma econômico, sabemos o que precisa ser feito, mas não estou otimista quanto a que seja feito. Se não for, a região continuará a perder década após década e continuará ficando para trás.”

O Fundo Monetário Internacional também está alertando. O crescimento per capita da América Latina será de 1,6 por cento no médio prazo, a mesma taxa registrada nos últimos 25 anos, bem inferior ao crescimento de 2,6 por cento estimado para os países em desenvolvimento em geral, informou o FMI em um relatório de julho intitulado “Recomeça a marcha, mas em baixa velocidade”.

“As perspectivas de crescimento vigoroso a longo prazo na América Latina são hoje mais remotas do que eram há alguns anos, no auge do boom de preços das commodities”, afirmou Alejandro Werner, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, no relatório. “Outro ponto inquietante é que essas taxas de crescimento são basicamente iguais às das economias avançadas.”

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