Por Sid Verma.
O envelhecimento populacional na China e na Europa deverá transformar a economia global, provocando um aumento nas taxas de juros que pode preparar o cenário para uma disputa entre velhos e jovens.
É o que dizem Charles Goodhart e Manoj Pradhan, que pintam um quadro abrangente do panorama econômico futuro em um novo artigo publicado pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês).
No artigo, o professor da London School of Economics e o ex-economista do Morgan Stanley rejeitam a visão popular de que o envelhecimento populacional diminuirá o crescimento e derrubará os juros. A pesquisa contrasta com os modelos citados pelo Federal Reserve, que projetam que os juros reais ajustados pela inflação estarão intrinsecamente ligados ao crescimento potencial.
“Já passamos pelo ponto demográfico ideal, e tanto a taxa de juros real de equilíbrio quanto a inflação provavelmente já pararam de cair”, escreveram Goodhart e Pradhan. “Os problemas futuros agora podem se intensificar com a piora da estrutura demográfica e com a redução do crescimento, e há pouca tolerância para uma grande inflação.”
As três décadas de procura por novos trabalhadores da Ásia e de outros mercados emergentes ampliaram os retornos dos investidores em títulos graças ao crescimento fraco dos preços, criando um ponto ideal para os donos do capital que agora está sendo revertido, escreveram os autores.
Mas as tendências demográficas deverão ser a força motriz do preço da mão de obra e do capital nas grandes economias, e o envelhecimento da população, por sua vez, consumirá as taxas de poupança e compensará a redução correspondente do gasto com investimento, que tende a cair quando a demanda é menor.
Essa dinâmica deverá estimular um aumento do custo efetivo do capital, ou do juro real, estimam os autores, rejeitando a visão dos pesquisadores do Fed de que o juro real permanecerá baixo em meio ao crescimento potencial fraco.
Uma das principais razões para a crença de Goodhart e Pradhan de que os trabalhadores ajustarão suas taxas de poupança enquanto ainda estiverem no mercado de trabalho, ancorando assim os juros, é a projeção de que os benefícios sociais continuarão existindo nas economias avançadas. Isso diminuiria o incentivo para os trabalhadores aumentarem suas poupanças e estimularia uma rápida “dissolução” da aposentadoria.
Não faltam contrapontos para essa visão, como a necessidade persistente de “ativos seguros” por parte dos poupadores, o que aumenta a demanda por dívidas com classificação alta e limita os rendimentos. Enquanto isso, o poder de compra dos consumidores aposentados não estará garantido se os jovens começarem a contra-atacar, e as inovações tecnológicas poderão dar nova forma ao panorama da produtividade e dos juros.
Os autores reconhecem a validade de alguns desses contrapontos, mas argumentam que os dados demográficos são consistentemente mais poderosos do que a projeção dos modelos típicos.
À medida que mais empresas presentearem os proverbiais relógios de aposentadoria a um número crescente de trabalhadores, os mercados de trabalho mais apertados também deverão elevar os salários, ajudando a reduzir a desigualdade em todas as economias avançadas no processo, dizem eles. Enquanto as taxas de poupança globais diminuem, a contagem regressiva da bomba-relógio da dívida avança, concluem.
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