Enxurrada inédita de downgrades no Brasil ainda pode piorar

Por Sebastian Boyd.

Fotógrafo: Gregg Newton/Bloomberg
Fotógrafo: Gregg Newton/Bloomberg
 
Em meio ao tumulto econômico e político do Brasil, as empresas do país viram um número recorde de rebaixamentos neste ano — e o total está prestes piorar.

A Fitch Ratings estima que poderá cortar as classificações de até 10 empresas para cada uma que elevar em 2016. A Fitch disse que esse cenário sombrio é mais provável se a agência reduzir a nota do Brasil, uma possibilidade que cresce cada vez mais com a piora dos problemas do país.

O presidente da Câmara dos Deputados autorizou o início de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff na semana passada, uma decisão que poderá minar ainda mais as finanças do país e ampliar a pior recessão em 25 anos. Isso significa problemas para as empresas que já estão encontrando dificuldades para obter financiamento após um escândalo de corrupção sem precedentes na companhia petrolífera estatal, a Petrobras.

“É uma tempestade perfeita”, disse Ricardo Carvalho, diretor sênior de análise corporativa da Fitch no Brasil.

A Fitch tem uma perspectiva negativa para o Brasil e para as notas de mais da metade das empresas brasileiras que classifica. Sua nota BBB- para os bonds soberanos é o grau de investimento mais baixo possível. A Standard & Poor’s cortou o país para o grau especulativo em setembro.

As empresas brasileiras responderam por 11 dos 15 calotes em bonds na América Latina neste ano em um momento em que uma crescente investigação de corrupção na Petrobras mina os setores de construção e bancário do país. Os outros quatro foram na Argentina e no México.

Na sexta-feira, a Fitch rebaixou o banco de investimento BTG Pactual do grau de investimento para o grau especulativo depois que o CEO do banco foi preso por supostamente obstruir a investigação sobre corrupção na Petrobras.

O escândalo de corrupção na Petrobras e em suas empreiteiras ajudou a impulsionar os custos médios em dólares dos empréstimos para empresas brasileiras em 3,16 pontos percentuais neste ano, para 9,54 por cento, segundo o índice USD Emerging Market Corporate da Bloomberg.

Refinanciamento

Os yields crescentes ameaçam tornar mais difícil para as empresas endividadas do Brasil o refinanciamento de dívidas. Um total de US$ 30 bilhões em títulos no exterior vencerá nos próximos dois anos.

“A alta alavancagem e a queda do crescimento produzem um fluxo de caixa negativo, o que resulta em rebaixamentos”, disse Michael Roche, estrategista de renda fixa para mercados emergentes da Seaport Global Holdings LLC em Nova York.

As crescentes taxas de juros no Brasil também tornarão a captação local de recursos mais cara. O Banco Central elevou sua taxa básica para 14,25 por cento, o nível mais alto em oito anos, com o objetivo de conter a crescente inflação na segunda maior economia da América Latina.

“Você verá empresas queimando caixa”, disse Carvalho, da Fitch. “O mercado transfronteiriço está fechado para as empresas brasileiras e o mercado local é seletivo”.

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