Epidemia de overdoses nos EUA invade Facebook e obituários

Por Deena Shanker.

Após a overdose de drogas do namorado de sua sobrinha, Jennifer Hodge voltou para casa em Suwanee, na Geórgia, EUA, em uma noite do último trimestre do ano passado, e encontrou seu filho de 23 anos, Robbie, no chão do banheiro, também com uma aparente overdose.

Jennifer o levou correndo para o hospital, onde os médicos conseguiram reanimar o coração, mas ele permaneceu inconsciente. Ao lado do leito do filho, Jennifer fez algo que dezenas de milhões de americanos fazem diariamente. Uma postagem no Facebook.

“Se você está tendo problemas com o vício ou está tendo problemas com seus filhos, por favor venha me ver hoje”, escreveu. “Eu sinto a necessidade de falar com você para que você nunca sinta esta dor.”

A postagem inclui um vídeo de Robbie sorrindo, enquanto a mãe lhe pede que prometa não usar drogas, e ele dizendo que ligará para ela todos os dias. Depois, uma foto dele no leito do hospital, inconsciente.

Desde que foi postada, a mensagem de Jennifer foi compartilhada quase 5.000 vezes e recebeu mais de mil comentários. Começaram até a aparecer pessoas no hospital.

Robbie morreu logo depois, no começo de dezembro, tornando-se mais uma vítima da epidemia de drogas dos EUA. Em 2015, mais de 52.000 pessoas morreram nos EUA por overdose de drogas, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, fazendo parte de um estável e severo aumento nos últimos 10 anos. Em 2005, eram pouco menos de 30.000. Apenas na Geórgia, em 2015, as drogas mataram mais de 1.300 pessoas.

“Nossa comunidade precisava que alguém se manifestasse”, diz Jennifer.

Com sua postagem, Jennifer se tornou parte de uma pequena, mas crescente, comunidade de pais e entes queridos que estão compartilhando publicamente as dificuldades de suas famílias com o vício na esperança de reduzir o estigma ligado a ele. As famílias normalmente descrevem as mortes por vício com eufemismos, dizendo nos obituários que a pessoa morreu “repentinamente” ou “inesperadamente”. Mas a honestidade crua está se tornando cada vez mais predominante.

A mudança é notável, diz Katie Falzone, vice-presidente de operações do Legacy.com, um website que publica obituários coletados de mais de 1.500 jornais e 3.500 funerárias de todo o mundo. Uma busca na base de dados do site mostra que as palavras “overdose” e “viciado” apareceram em apenas um obituário em 2007, mas foram encontradas em 68 obituários em 2016. Os obituários que falam com franqueza sobre o vício continuam sendo uma fração da enorme quantidade de avisos de falecimento e histórias de vida do Legacy.com, mas o aumento de quase 700% ocorreu em um momento em que o volume geral de obituários no site estava crescendo a um ritmo muito menor, de 44 por cento.

“As famílias dos viciados vêm compartilhando suas dificuldades como uma advertência, na esperança de salvar os demais da mesma angústia”, diz Falzone.

Os viciados em recuperação também estão compartilhando suas histórias com o mundo, construindo uma comunidade online de apoio formada por estranhos que enfrentam dificuldades similares. A hashtag #soberlife (“vida sóbria”) foi incluída em cerca de 33.000 postagens no Instagram em 2015 e #sobriety (“sobriedade”) apareceu em mais de 19.000, segundo o Recovery.org, um website focado em conectar pessoas com informações para ajudá-las com o abuso de substâncias.

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