Por Stephan Kueffner e Javier Blas com a colaboração de Angelina Rascouet.
O Equador desferiu um golpe na unidade da Opep ao anunciar que começará a ampliar sua produção de petróleo neste mês, argumentando que precisa do dinheiro.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) há anos trapaceia em seus próprios acordos, em particular quando os preços do petróleo não se recuperam após um corte de produção. Mas o Equador tomou a rara decisão de anunciar publicamente que ampliará a produção, impossibilitando o grupo de esconder a deserção.
O país latino-americano não conseguirá cumprir o compromisso de reduzir a produção em 26.000 barris por dia, para 522.000 por dia, conforme acordado com a Opep no ano passado, disse o ministro dos Hidrocarbonetos, Carlos Pérez, em entrevista à Teleamazonas, na segunda-feira.
“Há uma necessidade de recursos para o tesouro fiscal, portanto tomamos a decisão de aumentar gradualmente a produção”, disse Pérez. “O que o Equador faz ou deixa de fazer não afeta muito a produção da Opep.”
De fato, a saída do Equador é em grande parte imaterial se considerado o tamanho do mercado global de petróleo, já que a quantidade que o país concordou em reduzir representa menos de 25 segundos de consumo diário. Ainda assim, a decisão cria um precedente perigoso na Opep, abrindo as portas para que outros produtores, talvez maiores, sigam o exemplo.
“O anúncio mais recente do Equador não é importante para os balanços globais, mas mostra os desafios para os integrantes da Opep, considerando que os cortes não foram capazes de elevar os preços”, afirmou Amrita Sen, analista-chefe de petróleo da Energy Aspects, com sede em Londres. O anúncio pode “gerar novamente medo de colapso do acordo”, disse ela.
O petróleo de referência Brent eliminou a maior parte dos ganhos obtidos após o acordo da Opep em novembro, com uma queda de 14 por cento neste ano, e era negociado abaixo de US$ 49 o barril na terça-feira.
O Equador afirmou que tinha um acordo “não escrito” com a Opep que dava flexibilidade ao país em relação à produção devido às suas necessidades fiscais. O grupo com sede em Viena, no entanto, não revelou esse acordo.
O Equador não é o único membro da Opep com dificuldades para reforçar suas finanças. Outros países, como a Argélia, dependem fortemente das reservas de petrodólares acumuladas durante o boom dos preços do petróleo de 2000 a 2008 para conter déficits fiscais. Muitos precisam de preços significativamente maiores que o atual para equilibrar o balanço, segundo a think tank apartidária Council on Foreign Relations, de Nova York.
A implementação do acordo de novembro para redução da produção pela Opep está em queda após um início forte no começo do ano. A Agência Internacional de Energia colocou o cumprimento em 78 por cento em junho, menor patamar em seis meses, porque Iraque, Emirados Árabes Unidos, Equador e Venezuela bombearam mais do que o acordado. O Iraque produziu 4,5 milhões de barris por dia, cumprindo apenas 29 por cento de seu compromisso.
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