Por Cass Sunstein.
Será que os investidores sofrem de vícios de comportamento? Novas pesquisas demonstram que sim: eles pensam que um colapso é muito mais provável do que realmente é. Depois de ler os jornais, é possível que você reaja exageradamente às más notícias sobre o mercado — e perca dinheiro por isso.
A melhor explicação é que os investidores sofrem aquilo que os cientistas do comportamento chamam de “heurística de disponibilidade”, que distorce as decisões das pessoas em muitos domínios. Em seu trabalho pioneiro sobre o comportamento humano, Amos Tversky e Daniel Kahneman descobriram que as pessoas tiram conclusões sobre as probabilidades perguntando sobre os eventos que mais facilmente vêm à mente (e, portanto, estão cognitivamente “disponíveis”).
Por exemplo, se você conhece alguém que se envolveu recentemente em um acidente de trânsito, é provável que você superestime a probabilidade de uma pessoa comum se envolver em um acidente de trânsito. Portanto, a heurística de disponibilidade pode produzir um “viés de disponibilidade” nas formas de medo excessivo (quando é fácil lembrar os resultados ruins) e de complacência excessiva (quando os resultados ruins não são lembrados rapidamente).
Em 1973, Tversky e Kahneman usaram uma série de testes simples para demonstrar o uso generalizado da heurística de disponibilidade. Em uma palavra aleatória em inglês, você acha que é mais provável que a letra “k” será a primeira ou a terceira letra? As pessoas tendem a dizer que será a primeira, porque é mais fácil, para quem fala inglês, pensar em palavras que começam com k — embora um texto típico tenha duas vezes mais palavras com a letra k na terceira posição.
Kahneman e Tversky especularam que a heurística da disponibilidade é usada em áreas importantes, como quando “a disponibilidade fortuita dos incidentes” (como um acidente aéreo recente) acaba distorcendo as conclusões das pessoas. Se as pessoas se preocupam com um acontecimento e por essa razão falam muito a respeito, a disponibilidade dele em suas mentes aumentará — o que significa que as pessoas o considerarão muito mais provável do que realmente é. Esta foi uma sugestão inicial de que as pessoas podem sucumbir a “cascatas de disponibilidade”, que surgem quando o relato de um evento aparente ou potencial se espalha rapidamente de uma pessoa à outra, levando as pessoas a acreditarem em algo que não é verdadeiro.
Isto nos traz à nova pesquisa, realizada por William Goetzmann e Robert Shiller, de Yale, e por Dasol Kim, da Case Western Reserve. Por 26 anos, Shiller pediu aos investidores que estimassem a probabilidade de ocorrência de um colapso severo nos seis meses seguintes. (Um colapso severo é definido como um declínio do mercado de pelo menos 12,82 por cento, como ocorreu em 28 de outubro de 1932).
A estimativa média nesses 26 anos foi de 19 por cento e a média, de 10 por cento. É uma loucura: se olharmos para o histórico do Dow Jones Industrial Average, a probabilidade real foi de cerca de 1 por cento; durante qualquer período prolongado, uma estimativa de 10 por cento ou mais é muito inflacionada. Fica claro que os investidores americanos têm superestimado a probabilidade de ocorrência de um colapso.
O que explica esse equívoco persistente? Goetzmann e seus coautores têm a hipótese que isso se deve ao viés de disponibilidade: os investidores dão peso demais às informações recentes na avaliação de probabilidades de queda. Eles especularam que sempre que a imprensa divulgar uma notícia ruim sobre o mercado de ações, os investidores reagirão exageradamente.
Para testar essa hipótese, eles pesquisaram o Wall Street Journal em um período de 26 anos, procurando palavras positivas e negativas, como “avanço do mercado de ações”, “queda do mercado”, “alta do mercado”, “boom do mercado de ações” e “colapso do mercado de ações”. Eles previram que os investidores dariam um peso excessivo às informações mais recentes na hora de decidir sobre a probabilidade de um colapso. Com base em pesquisas anteriores, eles também previram que o viés de disponibilidade seria “assimétrico” no sentido de que os investidores seriam mais influenciados por acontecimentos e termos negativos do que pelos positivos.
Os dados confirmaram essa previsão. Depois que a mídia utiliza termos negativos, os investidores acabam dando uma estimativa significativamente mais alta de risco de colapso. A primeira página é o que impulsiona esse resultado (mais um testemunho do poder da heurística da disponibilidade): as reportagens negativas que não estão na primeira página não surtem efeito.
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