Nas últimas negociações comerciais para valer entre China e EUA, o principal assessor econômico do presidente Xi Jinping saiu queimado.
Após intensas conversas em Washington em maio, o vice-premiê Liu He declarou que uma guerra comercial tinha sido evitada após a China aceitar “aumentar significativamente as compras” de produtos americanos. À imprensa chinesa, Liu disse que Donald Trump o respeitou como representante especial de Xi e que ele tinha “um sentimento muito forte” de que o presidente americano desejava boas relações com Pequim.
Poucos dias depois, Trump avisou que os EUA taxariam até US$ 50 bilhões em importações chinesas, em uma situação que acabou se agravando. A decisão americana torpedeou qualquer expectativa de avanço e envergonhou Liu.
Agora, com os dois lados sinalizando a possibilidade de retomar negociações, a China teme ser enganada novamente, de acordo com três representantes governamentais que pediram anonimato. A equipe de Xi ainda quer chegar a um acordo com os EUA e está aberta a conversas, mas será difícil os negociadores chineses confiarem nos americanos do outro lado da mesa, disseram as fontes.
O receio dos chineses mostra como será difícil desarmar as tensões entre as duas maiores economias mundiais, em uma disputa que já intensificou os riscos ao crescimento global. O quadro também colocou em evidência o quanto há em jogo para Xi, que enfrentou raras críticas pela forma que vem lidando com a questão comercial após ter se tornado o líder chinês mais poderoso em décadas.
“Se outro acordo for rejeitado, vai pegar mal para Xi”, disse Ether Yin, sócio da consultoria Trivium China, em Pequim. “A vantagem é a base da negociação. Quem é rejeitado uma vez e se aproxima do outro de novo transmite fraqueza.”
Consolidando sua posição ao longo do último ano, Xi apresentou um plano de várias décadas para fortalecer o Partido Comunista e transformar a China em potência global. Agora, acadêmicos, economistas e autoridades questionam se mais poderia ter sido feito para evitar um confronto capaz de prejudicar a atividade econômica.
Trump ameaçou taxar todos os produtos chineses importados pelos EUA e acusou a China de depreciar a moeda para ter vantagem comercial. O mercado acionário chinês é o de pior desempenho neste ano entre os grandes e um escândalo envolvendo vacinas com defeito chocou o país, aumentando os desafios do governo Xi.
Reação a Xi
“Alguns atribuem reações negativas à China em todos os países industrializados ao fato de Xi ter ido longe demais na política externa e também na política doméstica”, disse Susan Shirk, que já foi assistente do Secretário de Estado dos EUA para o Leste Asiático. “Eles pedem moderação e restrição.”
Com o impasse se arrastando, a China testa novas táticas para aliviar a tensão, incluindo a aproximação de aliados dos EUA e uma retórica mais branda. Porém, o país insiste que não vai negociar alguns pontos já definidos, como os subsídios a setores de robótica e inteligência artificial que são pilares do programa Made in China 2025.
Nas primeiras rodadas de negociação com o governo Trump, a China focou em estreitar o déficit comercial bilateral, que era um dos assuntos preferidos do presidente americano. Autoridades em Pequim hoje reconhecem que essa abordagem foi muito restrita, de acordo com duas fontes.
Uma área onde se enxerga possibilidade de ceder é a de direitos de propriedade intelectual, de acordo com um representante do governo chinês. Parte da justificativa dos EUA para impor as tarifas é a investigação sob a chamada Seção 301, que acusa a China de roubar propriedade intelectual americana para tentar dominar o desenvolvimento de tecnologias avançadas.
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