Espaço para manobra pelo Fed está diminuindo

Por Dr Mohamed Aly El-Erian.

Não importa se o Federal Reserve decidirá ou não elevar a taxa básica de juros na reunião de 14 e 15 de março, as oscilações do mercado de renda fixa nesta semana devem servir de alerta para quem crê — equivocadamente – que a autoridade monetária está fadada a seguir os mercados em vez de liderá-los.

Na verdade, o dramático reposicionamento das expectativas dos mercados de acréscimo nos juros em março – de aproximadamente 30 por cento para mais de 80 por cento em poucos dias – pode afetar o discurso que a presidente do Fed, Janet Yellen, fará nesta sexta-feira.

Em uma notável exibição de união e mensagem uniforme, os responsáveis por três escritórios regionais do Fed — Dallas, São Francisco e Nova York (este último mais importante por causa do assento no comitê de política monetária, o FOMC) – vieram a público justificar uma elevação antecipada dos juros. Na quarta-feira, esta visão foi reforçada por Lael Brainard, considerado um dos integrantes do comitê de postura mais branda.

Com as falas dos membros do Fed nesta semana, a probabilidade implícita de alta dos juros subiu, assim como subiram os rendimentos dos títulos do Tesouro de prazo mais curto que são mais sensíveis à política monetária, como o papel com vencimento em dois anos, que hoje é negociado em níveis só observados em 2009. O contágio chegou ao exterior: o rendimento dos títulos alemães avançou apesar do maior risco político associado às eleições na França.

Reconhecidamente, não foram somente os comentários de integrantes do Fed que mexeram com os mercados. A justificativa para aumento antecipado dos juros foi reforçada por dados sólidos da economia americana, incluindo os pedidos semanais de auxílio-desemprego no menor patamar em 44 anos, além de dados internacionais robustos, como a surpresa positiva com o índice dos gerentes de compras da China. Além disso, o mercado acionário se mostra exuberante, animado com o tom e o conteúdo do primeiro discurso do presidente americano Donald Trump à sessão conjunta do Congresso. O encanto foi tamanho que não foi dada atenção aos atrasos adicionais sobre os detalhes das medidas pró-crescimento planejadas pelo presidente ou seu cronograma de implementação.

A questão agora não é se o reposicionamento das cotações dos mercados era necessário. Uma semana atrás, eu mesmo afirmava que os participantes do mercado estavam subestimando a probabilidade de alta dos juros em março. A questão central é se os mercados foram longe demais. E a resposta depende principalmente dos dados de emprego e salários que serão divulgados em 10 de março.

Enquanto isso, Yellen se vê em situação delicada quando for discursar na sexta-feira. Em um mundo perfeito, ela gostaria de reter maior opcionalidade, principalmente diante dos dados do mercado de trabalho que ainda não saíram e também por causa da fluidez política na Europa. Ilustrativamente, eu sugeriria que o quadro pede uma probabilidade implícita entre 50 por cento e 60 por cento. Em vez disso, ela se depara com uma chance bem maior. E sendo assim, qualquer tentativa significativa de guiar a probabilidade substancialmente para baixo ameaça desencadear reclamações sobre a inconsistência das mensagens do Fed.

Às vezes nos lembramos de ter cuidado com o que desejamos. O Fed pode se sentir desta forma, mas somente no curtíssimo prazo.

A demonstração contundente nesta semana de sua capacidade de mexer com os mercados de renda fixa vem com o risco de causar um exagero inicial que limita a liberdade imediata de Yellen na sexta-feira. Mas fora isso, a saúde da economia e a estabilidade subjacente dos mercados financeiros seriam beneficiadas por uma estratégia revitalizada do Fed, mostrando capacidade e disposição de liderar os mercados em vez de ser liderado por eles.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.

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