Espiões desenterram sujeiras do passado de pessoas como Trump

Por Stephanie Baker e Tariq Panja.

“A sobrevivência”, disse George Smiley, “é uma infinita capacidade de desconfiar”.

Hoje em dia, no entanto, desconfiar se transformou em um negócio que Smiley, o extraordinário mestre de espionagem criado por John le Carré, talvez nunca tivesse imaginado.

Muito antes de o mundo ficar sabendo, nesta semana, dos memorandos que alegam que a Rússia tinha materiais comprometedores sobre Donald Trump — acredita-se que um ex-agente do serviço de informações britânico tenha preparado esses memorandos –, os negócios educadamente conhecidos como “inteligência corporativa” haviam se transformado em uma indústria de muitos bilhões de dólares.

As CIAs e os MI6s particulares de hoje estão profundamente envolvidos nos negócios e na política, mas seus serviços não são baratos. A tarifa atual pode chegar a US$ 1.200 por hora, o equivalente ao cobrado por um advogado de reputação em Wall Street.

US$ 19,4 bilhões neste ano

No mundo inteiro, estima-se que espiões, detetives particulares e distintos especialistas em segurança obterão uma receita de US$ 19,4 bilhões neste ano, de acordo com a empresa de pesquisa Gartner. Isso sem incluir operações de inteligência dentro de grandes corporações como a Exxon Mobil, cujo CEO, Rex Tillerson, foi escolhido por Trump para ser Secretário de Estado.

Desde que Jules Kroll desbravou a indústria moderna de inteligência corporativa dos EUA nos anos 1970, os negócios ganharam o mundo e, como era de se esperar, adotaram tecnologia de ponta.

“Hoje o panorama é completamente diferente, foi-se o tempo dos homens com chapéu fedora sob postes de luz, o mercado está bastante sofisticado”, disse Patrick Grayson, CEO da empresa de inteligência corporativa GPW em Londres, que abriu um escritório na cidade para Kroll em 1986. A concorrência também ficou mais acirrada, disse ele.

A Orbis Business Intelligence, a empresa de investigação particular que supostamente está no centro dos memorandos sobre Trump, empurrou de repente essa indústria secreta para as manchetes dos jornais. Christopher Steele, ex-agente do MI6 que ajudou a fundar a empresa londrina, foi amplamente citado como autor dos memorandos, que contêm alegações não comprovadas sobre a vida pessoal e as atividades empresariais de Trump.

Na quarta-feira, em sua primeira entrevista coletiva como presidente eleito dos EUA, Trump chamou as acusações de “notícias falsas” e “invenções”.

Sujeira cara

A inteligência corporativa não é barata, e muita gente do setor cobra entre 600 e 1.000 libras por hora, de acordo com Grayson. O trabalho inclui de tudo, de rastrear ativos e investigar fraudes a lidar com casos de denunciantes. Na esfera política, o trabalho também pode incluir investigações sobre a oposição, chamadas em inglês de “oppo”, com o objetivo de desenterrar sujeiras do passado dos rivais.

Vários especialistas na indústria de inteligência da Rússia afirmaram nesta semana que reunir informações na Rússia é notavelmente difícil.

“É realmente complicado obter informações confiáveis”, disse Andrew Wordsworth, especialista russo e um dos fundadores da empresa de inteligência corporativa Raedas em Londres. “Meia dúzia de empresas no meu setor tem padrões altos e é estrita em relação a esse trabalho, mas os clientes não conseguem diferenciar as informações confiáveis das baboseiras.”

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